Não é difícil a qualquer pessoa com
o mínimo de discernimento, quer acompanhando as notícias veiculadas na
mídia, quer observando a realidade da vida, dar-se conta do quanto as
mais diversas instituições passam por um processo de desagregação moral,
em certo sentido, sem precedentes na História: crise da família, da
economia, da política, da educação…
Tais crises, em última análise, procedem
do afastamento vivenciado pelo homem do sentido mais alto da petição que
rezamos cotidianamente no Pai Nosso: “seja feita a Vossa vontade, assim
na terra como no Céu”.
Ora, foi justamente para realização desta
vontade do Pai na terra, que Nosso Senhor Jesus Cristo habitou entre
nós e constituiu a sua Santa Igreja Católica Apostólica Romana. Foi com
vistas a esta missão salvadora que “Jesus chamou os Doze, e começou a
enviá-los dois a dois, dando-lhes o poder sobre os espíritos impuros”
(Mc 6, 7). “Então os Doze partiram e pregaram que todos se convertessem.
Expulsavam muitos demônios e curavam numerosos doentes, ungindo-os com
óleo (Mc 6, 12).
Foi justamente através da cura dos
enfermos e da expulsão dos demônios, que os Apóstolos confirmavam sua
pregação de uma “doutrina nova dotada de potência”. No que consistia a
pregação?
Era o convite para “penitência interior,
uma reorientação radical de toda a vida, um retorno, uma conversão a
Deus de todo o nosso coração, uma ruptura com o pecado, uma aversão ao
mal e repugnância às más obras que cometemos. Ao mesmo tempo, é o desejo
e a resolução de mudar de vida, com a esperança da misericórdia divina e
a confiança na ajuda da sua graça”.¹
A partir desta “reorientação radical”
para Deus, é que será possível a reforma do homem, das instituições e da
sociedade que se faz cogente, mais do que nunca, em nossos dias. Em
outros termos, nós católicos somos chamados à nova Evangelização, temos à
missão evangélica de promover a “sacralização do mundo”, de que fala o
documento do Concílio Vaticano II, Lumen Gentium (34).
No entanto, para que tal convite à
conversão e sacralização do mundo se efetive, é necessário, como o foi
na época dos Apóstolos: que todos os que se dedicam à evangelização e
fazem apostolado tenham sua pregação confirmada por milagres. Sim, é
preciso milagres!
O “milagre” capaz de assombrar o mundo afastado de Deus
E nós, pela graça de Deus, seremos capazes de fazer milagres?
A esta questão, Mons. João S. Clá Dias nos dá uma fundamentada e elucidativa resposta:
“E hoje? Que milagres
precisa operar quem se dedica ao apostolado, para mover as almas à
conversão? Em nossa época tão secularizada, talvez os milagres não
produzam o efeito que tiveram nos tempos apostólicos. Por isso, o
“milagre” que os autênticos evangelizadores devem fazer é o de anunciar a
Jesus Cristo mediante o testemunho de uma vida santa:
portanto, praticando a virtude, aspirando à santidade e desprezando as
solicitações e os ilusórios encantos do mundo. Este, sim, é o “milagre”
capaz de assombrar o nosso mundo secularizado, pois a prática estável
dos Dez Mandamentos não é possível só com as forças naturais da vontade
humana, como nos ensina o Magistério Eclesiástico.² [grifos nossos]
E continua o Fundador dos Arautos, apoiando-se na Lumen Gentium (35):
“Este é o portentoso ‘milagre’ que poderá abalar a incredulidade ou o
indiferentismo de nossos coetâneos, como tantas vezes nos recordaram os
últimos Papas, e já ensinava o Concílio Vaticano II, referindo-se ao
apostolado laical: ‘Os leigos tornam-se valorosos arautos da Fé naquelas realidades que esperamos (cf Hb 11, 1), se juntarem sem hesitação, a uma vida de fé, a profissão da mesma Fé. Este modo de evangelizar, proclamando a mensagem de Cristo com o testemunho da vida e
com a palavra, adquire um certo caráter específico e uma particular
eficácia por se realizar nas condições ordinárias da vida no mundo”.³
Aqui está a melhor pregação e o melhor
“milagre” de uma Nova Evangelização, neste mundo tão marcado pelo caos e
afastado da vontade do Deus Nosso Senhor Jesus Cristo: “a pregação de
uma vida irrepreensível e santa”. Que o Sapiencial e Imaculado Coração
de Maria, em sua insondável misericórdia, nos a obtenha.
………………….
¹ Catecismo da Igreja Católica. Tópico n. 1431: A Penitência Interior. 11ª ed. São Paulo: Loyola, 2001, p. 394.
² Mons. João S. Clá Dias, EP. XV Domingo do Tempo Comum – Os Doze são enviados em missão. In: _____. O inédito sobre os Evangelhos – Comentários aos Evangelhos dominicais. Vol.
IV – Ano B – Domingos do Tempo Comum, Coedição internacional de Città
del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, São Paulo: Instituto Lumen
Sapientiae, 2014, p. 237.
³ Mons. João S. Clá Dias, EP, idem, p. 237.
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