Para discutirmos o sentido do Desfile Cívico de 7 de setembro
precisamos realizar uma contextualização histórica em relação aos usos e
significados que foram sendo atribuídos a este evento, bem como
contextualizá-lo em relação a quatro conceitos os quais, embora muito
semelhantes quanto ao seu uso na linguagem cotidiana, guardam especificidades,
e que são NACIONALISMO, PATRIOTISMO, CIVISMO e CIDADANIA.
Comemorações do 7 de setembro aconteciam, de maneira
relativamente informal e espontânea, desde a proclamação da República (1889) e
originalmente havia apenas um Desfile Militar nas capitais, até porque os
primeiros governos republicanos não haviam definido se a grande data nacional
seria esta, o 15 de novembro, data da Proclamação da República ou o 21 de
abril, dia de Tiradentes.
Foi no primeiro governo de Getúlio Vargas que os estudantes e
algumas agremiações e Sindicatos foram agregados ao Desfile.
A “era Vargas”, muito embora possa ser dividida em 3 partes
(governo ditatorial, de 1930-1934, governo democrático, 1934-1937 e Estado
Novo, 1937-1945), no seu conjunto significa um momento de afirmação do
NACIONALISMO, o qual encontrava-se exacerbado na época, em nível global.
Na essência, o nacionalismo é uma ideia, surgida após a
Revolução Francesa (1789) sendo que em sentido estrito, seria um sentimento de
valorização marcado pela aproximação e identificação com uma nação.
O conceito de Nação, por sua vez, traz consigo valores positivos
como a língua e a cultura, o sentimento Nacional, a defesa do território, mas,
a exacerbação do nacionalismo, leva à xenofobia (ódio aos estrangeiros) e até a
perseguição das “minorias” (pois não compactuariam dos “valores e sentimentos
nacionais” da maioria) como aconteceu no nazismo e no fascismo.
O Dia da Pátria, 7 de setembro, só foi tornado feriado Nacional
através da Lei 662, de 6 de abril de 1949, quando o Presidente do Brasil era o
General Eurico Gaspar Dutra.
Nesta época, notadamente na década seguinte (que foi a época do
desenvolvimentismo, da Construção de Brasília, que elevou a autoestima dos
brasileiros e da Bossa Nova, que nos projetou internacionalmente), a ideia de
NACIONALISMO foi gradativamente sendo suplantada pela ideia de PATRIOTISMO:
sentimento de orgulho, amor e devoção à pátria e aos seus símbolos, bem como o
amor dos que querem servir ao seu país e ser solidários para com os seus
compatriotas.
No intervalo 1949-1964 tivemos desfiles apoteóticos, que
agregaram e congraçaram civis e militares, instituições laicas e religiosas,
trabalhadores, crianças, jovens e movimento organizado dos Estudantes.
Após 1964, a ideia predominante em relação ao Desfile passou a
ser o CIVISMO, entendido enquanto valores e práticas de normatização e
harmonização, defesa das instituições e deveres para com a Pátria. Decorrente
desta mudança de paradigma, o Desfile perdeu o caráter festivo e foi
estabelecido o protocolo para as comemorações deste dia, através da Lei 5.571
de 28 de novembro de 1969, governo da junta governativa provisória de 1969
(generais Aurélio de Lira Tavares, Augusto Rademaker e Márcio de Sousa Melo).
Após a grande movimentação pelas “Diretas Já” em 1984, o
movimento dos “caras-pintadas” pelo impeachment de Fernando Collor de
Mello (1992), as várias marchas, paradas e mais recentemente as grandes
manifestações de rua (junho e julho de 2013) o sentido do desfile converge cada
vez mais, em nosso entendimento, para o conceito de CIDADANIA, já que estamos
falando de cidadãos imponderados da sua cidade, do seu território, sendo que,
segundo Milton Santos, o maior geógrafo brasileiro, o território é o “espaço
humanizado”.
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