Depois do surgimento do Protestantismo (Luteranismo, Presbiterianismo
e Anglicanismo), as várias denominações protestantes começaram a pregar
que consumir bebidas alcoólicas é pecado, pois não agrada a Deus.
Devemos ter sempre em mente que na Revelação, o certo e o
errado não está associado a um objeto em si, mas ao uso que fazemos
dele. Devemos dispor de todas as coisas criadas (seja pelo homem ou por Deus) para a glória Dele.
Sobre isso São Paulo ensinou que “tudo
o que é indiferente em si me é permitido, mas na prática nem tudo me
convém; todas as coisas me são lícitas, mas nem todas me convêm“ (cf. 1 Cor 6,12); e também: “Tudo me é permitido, mas nem tudo convém. Tudo me é permitido, mas nem tudo edifica” (1Cor 10,23).
No livro de Números, lemos:
“E o Senhor falou a Moisés, dizendo: “Fala aos filhos de Israel, e
lhes dirás: Quando um homem ou uma mulher fizerem votos de se
santificar, e se quiserem consagrar ao Senhor, abster-se-ão de vinho e
de tudo o que pode embriagar” (Num 6, 1-3).
Entretanto, em determinada situação, o consumo de bebida é permitida, conforme se lê: “… O sacerdote (nazareno) poderá beber vinho” (Num 6,20).
No livro do Profeta Ezequiel há uma outra restrição do Senhor quanto ao vinho: “Nenhum sacerdote beberá vinho, quando tiver de entrar no átrio interior” (Ez 44,21).
Há momento em que aqueles que foram consagrados ou trabalham
no serviço do Senhor, devem se abster dos prazeres da vida, para melhor
preparar seu espírito para Deus.
Entretanto, esta restrição é momentânea, ocasional e não permanente.
Quando Deus proíbe o consumo de vinho ou o permite, estabelece sempre
uma relação com as coisas boas da vida, as quais o uso deve estar
orientado para a Sua Glória.
Esta divina relação é demonstrada também de outra forma, por exemplo,
quando o uso das coisas materiais nos é concedido como recompensa do
nosso trabalho. Exemplo: “… Comprarás
com esse mesmo dinheiro tudo o que te aprouver, seja de bois ou seja de
ovelhas, e vinho e licores e tudo o que a tua alma deseja (…)
banqueteando-te tu e tua família”. (Deut 14, 26).
Nós gozamos de muitos bens, de que algumas pessoas abusam, como por
exemplo, a comida, o vinho, os sentidos do corpo. O mal que resulta
deste abuso não é imputável a Deus, autor e doador daqueles bens, mas ao
indivíduo que em vez de usar bem deles, usou mal. Seria conveniente
para que tais abusos se não dessem, que Deus não nos tivesse dado
aqueles bens? Certamente que não.
O
dom mais precioso que Deus deu ao homem foi o da inteligência.
Portanto, o da liberdade, isto é, a faculdade que cada pessoa tem de
escolher entre uma coisa e outra, de proceder de um modo ou de outro.
Por exemplo, uma pessoa pode cumprir o seu dever e trabalhar,
estudar, obedecer; ou não o cumprir, não trabalhando, não estudando, não
obedecendo. Neste último caso praticaria o mal, abusaria da liberdade.
Para impedir este fato, este abuso da liberdade, seria conveniente
que Deus privasse todos os homens deste dom, reduzindo-os à condição de
fazerem necessariamente o que fazem, como se fossem máquinas?
Evidentemente, não.
Pois até para o pecador Deus alcança um bem. Se o que praticou o mal o
reconhece, se arrepende dele e pede perdão, Deus manifesta-lhe sua
bondade, a sua misericórdia, perdoando-lhe. Se morre impenitente, aí
sim, Deus manifesta nele a sua justiça, que triunfa do mal e dos
inimigos.
Mas Deus, sendo infinita bondade não pode querer o mal e por isso não
pode fazer. Nós, infelizmente, é que podemos praticar o mal. Contudo,
se o não quisermos praticar, devemos recorrer sempre a Deus, que Ele nos
ajudará com a sua graça para, de fato, o não praticarmos e agirmos
sempre para o bem.
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