A
propósito de recentes estatísticas apontando o crescimento das facções
protestantes em detrimento da religião católica, recordo-me que no final
da década 1960 um jornalista muito arguto e pouco fiel à nossa santa fé
chegou a afirmar que o Brasil não tardaria a se transformar no maior
país ex-católico do mundo.
À época, eu cursava o Seminário Menor no Paraná e já podia perceber a
transformação paulatina e persistente nos meios católicos através de
sacerdotes ditos progressistas.
Com ou sem pretexto, eles compareciam no Seminário a fim de fazer
reuniões, acenando sempre para uma mentalidade nova a contrarrestar
valores então vigentes, qualificados não sem alguma malícia de
“empoeirados” ou cobertos de mofo.
Por ser conservadora, a diretoria do referido seminário começou a
sofrer pressão de um órgão do Vaticano e do episcopado paranaense para
se adaptar aos novos tempos, sob pena de abandonar aquela casa de
formação sacerdotal. Seu ex-reitor deve possuir em seus arquivos os
documentos que exigiam a sua cabeça e a dos demais sacerdotes que o
coadjuvavam.
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A diocese tinha cerca de cem seminaristas menores, doze mil
congregados marianos e filhas de Maria, além de outras associações de
leigos. Um sacerdote aggiornato do Rio Grande do Sul,
encarregado pelo bispo, visitava uma a uma dessas associações, sempre
propondo limpar a poeira e tirar o mofo através da modernização, mesmo
que precisasse desautorar o sacerdote que dirigia as referidas
associações.
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Num
ambiente assim hostil ao ensino tradicional, surgiu uma nova liturgia. O
altar do santo sacrifício da Missa foi substituído por uma mesinha de
frente para o povo, músicas profanas foram introduzidas nas celebrações,
o espírito religioso dos fiéis cedeu lugar a uma mentalidade mundana, e
muitas vezes se parodiavam os protestantes.
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Já no Seminário Maior em Curitiba, presenciei e ouvi de um
sacerdote no sermão a apologia do protestantismo ao afirmar que a Igreja
havia mudado sua posição.
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À noite daquele mesmo dia, com a presença de todos os seminaristas,
católicos e protestantes se reuniram numa igreja da capital paranaense.
No púlpito se revezavam padres e pastores. Houve padres que ousaram
defender o fim do celibato. A partir daí, muitos sacerdotes passaram a
sofrer de um mal que ficou conhecido como “crise de identidade”, outros
ainda lamentavelmente abandonavam o sacerdócio em decorrência das
novidades surgidas a partir do Concílio Vaticano II.
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Para os avisados a notícia da redução do número de católicos no
Brasil não chega a surpreender, pois o ambiente vinha sendo amplamente
preparado, como se pode observar na leitura do livro “Em defesa da Ação Católica”, de Plinio Corrêa de Oliveira.
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Nessa obra, escrita em 1943, o autor mostra a mudança não apenas de
comportamento, mas igualmente de doutrina, a partir de uma ala
modernista que se tornou atuante já na década de 1930, não respeitando
os tradicionais ensinamentos da Santa Igreja.
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Às
vezes me pergunto se o clero brasileiro, sobretudo o episcopado, está
realmente preocupado com a defecção e apostasia dos católicos que passam
a engordar as fileiras do protestantismo.
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Fala-se muito em ecumenismo nos meios católicos, mas como o clero
teria deixado escapar tantas ovelhas de seu rebanho? São os católicos
que estão fazendo proselitismo para esvaziar os ambientes das seitas
protestantes, ou são estas que se aproveitam da decadência religiosa e
do clero? Como fica o dogma de que fora da Igreja não há salvação?
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Essas perguntas me vêm ao espírito ao imaginar a situação alarmante
daqueles que apostataram ao renegar a fé recebida no santo batismo.
Qual teria sido a causa mais profunda desse abandono em massa – um terço
dos católicos – da fé no único Deus verdadeiro e da religião única e
verdadeira desse mesmo Deus que é a Santa Igreja Católica Apostólica
Romana?
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Para responder tais interrogações, precisamos analisar a vida
religiosa antes do Concílio Vaticano II, assunto que fica para um
próximo artigo.
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