Autor: Rafael Acácio
Certamente é uma grande alegria visitar Fátima, a cidade que se
tornou mundialmente conhecida devido às aparições da Santíssima Virgem a
três pastorinhos: Lúcia, Francisco e Jacinta.
Hoje, diferente da época das aparições, Fátima possui uma boa
infraestrutura capaz de receber milhares de fiéis ao longo do ano que
vão de todas as partes do mundo até o Santuário.
Dentro do Santuáriofoi erguida uma capelinha simples, de paredes
brancas, sem muitos enfeites, apenas um tradicional azulejo português em
sua parede lateral com a imagem de Nossa Senhora. Trata-se de uma
capela de pequeno tamanho, mas de grande dignidade. Uma capela erguida a
pedido da própria Mãe de Deus. Junto dessa capelinha encontra-se uma
pequena imagem da Virgem de Fátima, de aproximadamente 1 metro de
altura, que demarca o exato local onde a Santa apareceu.
Essa pequena capela, por ser fiel a Nossa Senhora, foi explodida por
inimigos da fé, os socialistas, no ano de 1922, aqueles que se dizem
defensores da liberdade e da democracia, sendo, porém, construída outra
igual no mesmo ano, que, com a graça de Deus, se mantém em pé até hoje.
Vendo essa capelinha lembrei-me de alguns versos escritos pelo nosso
saudoso Professor Orlando. Embora dirigidos à Torre de Belém, os versos
me parecem muito adequados à modesta capelinha das aparições:
“Tu, como Portugal, pequena embora,
revelas a alma grandiosa que em ti mora,
tão pequena e grandiosa és, que, talvez,
tua grandeza venha de tua pequenez”.
Orlando Fedeli.
“Quero que façam aqui uma capela em minha honra“
A Capelinha das aparições, em sua simplicidade,ensina que só tornamos
grandes nossas ações quando feitas com humildade e com devoção à Mãe de
Deus. Em outras palavras, nossos atos, ainda que pequenos – como a
pequena Capela – quando entregues a Deus pelas mãos de Nossa Senhora, se
tornam grandes e muito agradam a Deus Nosso Senhor.
Ainda no Santuário, pouco antes de chegar à Capelinha das Aparições,
encontramos a Basílica da Santíssima Trindade, fruto do ecumênico e
modernista Concílio Vaticano II. Trata-se do quarto maior templo do
mundo em capacidade e, infelizmente, um dos menores em dignidade.
Redonda por fora e quadrada por dentro, a Basílica não possui enfeites
nem belezas arquitetônicas, é um grande prédio branco, sem janelas. Uma
típica construção comunista. Uma Basílica tão grande quanto o mal que o
Vaticano II fez à Igreja. Junto desse enorme Templo encontra-se uma Cruz
de 34 metros de altura. Uma cruz abominável, com um Cristo
descaracterizado, que ao invés de atrair os fiéis para a Igreja de Deus,
os afasta, desonrando Nosso Senhor.
“…Se atenderem a meus pedidos, a Rússia converter-se-á e terão paz; se não, espalhará seus erros pelo mundo…”
Pequena como os pastores,a Capelinhadas aparições honra a Mãe de Deus
com sua simplicidade e obediência. E em sentido contrário, grande como
os pecados dos homens, a Basílica da Santíssima Trindade ofende a Deus
Nosso Senhor com seus princípios comunistas.
Mais adiante, já no final do Santuário,chegamos à Basílica
principal.Construída em estilo neobarroco e erguida em honra a Nossa
Senhora do Rosário, a Basílica abriga os túmulos dos três pequenos
videntes, os beatos Francisco e Jacinta e sua prima, a Irmã Lúcia. Do
lado de fora uma grande colunata abraça os milhares de fiéis, de todas
as partes do mundo que chegam para buscar refúgio no Imaculado Coração
de nossa tão boa Mãe.
“O Meu Imaculado Coração será o teu refúgio e o caminho que te conduzirá até Deus”
Neste pequeno artigo eu não busco contar a história dos
acontecimentos em Fátima, embora me valha deles muitas vezes, nem mesmo
tenho por objetivo analisar os mistérios escondidos nos segredos
revelados por Nossa Senhora. O que pretendo nessas poucas linhas é
apenas tratar de um tema abordado reiteradas vezes pela Virgem de
Fátima: a devoção ao santo Rosário.
Em sua origem o Rosário, por conter 150 Ave-Marias, chamava-se
“saltério de Jesus e da Virgem”, uma vez que 150 é, também, a quantidade
de salmos escritos pelo Rei Davi.Com o tempo os fiéis passaram a chamar
o Saltério de Jesus e da Virgem de “Rosário”, cujo significado é “coroa
de flores”.
Essa mudança de nome foi aprovada pela Santíssima Virgem que, por
diversas vezes revelou que lhe são oferecidas tantas rosas quanto
Ave-Marias rezadas, e tantas coroas de rosas quanto Rosários rezados.
Nesse sentido, conta São Luís de Montfort que um irmão da Companhia
de Jesus, de nome Afonso Rodrigues, recitava o rosário com tanto ardor
que, frequentemente, via saindo de sua boca uma rosa vermelha a cada
Pai-Nosso e uma rosa branca a cada Ave-Maria.
Com isso, podemos ver que o Rosário é uma coroa que colocamos na
cabeça de Jesus e Maria. Depois da Santa Missa, nada agrada mais a Nosso
Senhor e sua Santíssima Mãe que a recitação do Rosário. Por isso Santo
Afonso de Ligório diz que “entre todas as homenagens que se devem à Mãe de Deus nenhuma outra é mais agradável que o santo Rosário”.
A origem do rosário se deu por vontade da própria Mãe de Deus, e remonta a uma época de crise de fé na Igreja.
No final do século X, até meados do século XIV, uma antiga heresia
contaminou o velho continente. Os chamados cátaros, com sua doutrina
maniqueísta, dominaram grande parte da Europa, como os Países Baixos, a
Alemanha, o norte da Itália e, principalmente, o sul da França, onde
passaram a ser chamados de Albigenses, uma vez que se situavam na antiga
comuna de Albi.
Os Albigenses, por serem maniqueus, defendiam a doutrina dualista,
isto é, a existência de dois deuses: um deus bom e um deus mal. O deus
bom, de acordo com esta crença, é o responsável pela criação das almas,
ao passo que o deus mal criou toda matéria, encerrando as almas em seus
respectivos corpos.
Em virtude dessa religião os Albigenses condenavam a matéria e tudo
que fosse capaz de gerar matéria. Assim, um dos principais alvos dos
Albigenses era a maternidade, uma vez que ao gerar um filho a mãe
estaria aprisionando sua almaà matéria. Para os cátaros a propagação do
gênero humano constitui obra diabólica e, portanto, a gestante, por
carregar a matéria do deus mal em seu ventre, carregava o próprio
demônio no corpo.
Seguindo a lógica desse raciocínio, os cátaros viam a vida como um
aprisionamento da alma à matéria e, por isso, eram grandes difusores do
suicídio e do assassinato, em grande parte de mulheres grávidas.
Se a heresia cátara tivesse dominado o mundo haveria a decomposição da sociedade e a consequente extinção da humanidade.
Esse foi um período de crise na fé e, também, o cenário histórico em que São Domingos se encontrava.
No ano de 1214, vendo que os pecados dos homens impediam a conversão
dos albigenses, São Domingos buscou auxílio dos Céus. Por três dias e
três noites o santo refugiou-se em uma floresta e lá se manteve em
penitencia e oração.
Eis que surgea Mãe de Deus, acompanhada de três princesas do Céu, para consolar e auxiliar o santo penitente. Disse a Virgem: “Se queres ganhar para Deus esses corações endurecidos, prega o meu rosário”.
São Domingos então se dirige imediatamente à catedral, cujos sinos
eram tocados por anjos, para reunir todos os homens e falar-lhes sobre o
Rosário que lhe fora entregue pelas mãos puríssimas da Santíssima
Virgem.
No começo de sua pregação, como narra São Luís de Montfort, houve uma
tempestade espantosa; a terra tremeu, o sol se obscureceu, trovões e
relâmpagos repetidos fizeram estremecer e empalidecer os ouvintes. Em
meio a tudo isso surge uma imagem da Virgem Maria erguendo os braços
três vezes para o céu, pedindo a vingança de Deus contra eles, caso não
se convertessem e não recorressem a sua santa proteção.
A tempestade que amedrontava o povo cessou graças às orações de São
Domingos, que pôde continuar sua pregação. O santo falou com tanto
fervor e entusiasmo sobre as excelências do santo Rosário que em pouco
tempo quase todos os habitantes adotaram o hábito de rezá-lo,
renunciando para sempre seus erros.
Durante toda sua vida, São Domingos sempre se empenhou em honrar a
Mãe de Deus rezando e propagando seu Rosário. A Rainha dos Céus, por
nunca abandonar um de seus filhos, concedeu as mais abundantes graças ao
santo devoto. Tudo que São Domingos pedia a Deus, por intercessão da
Virgem Maria, lhe era alcançado. Por coroar Nossa Senhora com muitas
flores, São Domingos foi também coroado. Venceu a heresia Albigense e se
tornou patriarca de uma grande ordem religiosa.
“Se queres ganhar para Deus esses corações endurecidos, prega o meu rosário”.
Devido aos esforços de São Domingos a devoção ao Rosário se manteve
fervorosa por mais de cem anos, quando, infelizmente, caiu em
esquecimento, cessando o fluxo de graças concedido pela Mãe do Senhor.
Em consequência disso a Justiça Divina castigou diversos reinos da
Europa, dizimando cerca de um terço de sua população. Tal período,
conhecido como “peste negra”, devastou cidades, aldeias e mosteiros, de
modo que entre cem homens apenas um sobrevivia.
Tempos mais tarde, no ano de 1460, por ordem direta da Virgem, o
beato Alain de La Roche reestabelece a devoção ao Rosário, trazendo de
volta as graças de nossa Boa Mãe.
Disse a Santíssima Virgem ao Beato Alain de La Roche:
“Os devotos do meu Rosário tenham a graça e a bênção de meu Filho
enquanto vivem, na hora da morte e depois dela; que sejam libertados de
toda a espécie de escravidão e que sejam verdadeiros reis, com a coroa
na cabeça e o cetro na mão; e que alcancem a glória eterna. Amém”.
Nossa Senhora nos promete a eterna glória, ao lado de seu Divino Filho como prêmio por honrá-la através do Rosário.
Conta São Luís de Montfort, em sua obra “A eficácia maravilhosa do
Santo Rosário”, que Afonso, rei de Leão e da Galícia, desejava que todos
os seus servidores honrassem a Maria Santíssima pela reza do Rosário.
Para animá-los com seu exemplo, tomou o hábito de leva consigo,
ostensivamente, um grande Rosário, embora não o rezasse. O efeito foi
que todas as pessoas da Corte se sentiram obrigadas a rezá-lo.
O rei caiu extremamente doente e, quando já o julgavam morto, foi
arrebatado em espírito ao tribunal de Jesus Cristo. Ali, viu os demônios
que o acusavam de todos os pecados que havia cometido e viu o Juiz já a
ponto de condená-lo às penas eternas.
Nesse momento, apresentou-se a virgem diante de seu Filho e
intercedeu por Afonso. Foi então trazida uma balança e, num dos pratos
dela foram colocados todos os pecados do rei; no outro prato, a Virgem
colocou o grande rosário que ele tinha levado em sua honra e também os
que ele, pelo seu exemplo, tinha feito rezar. E esse prato pesou mais
que todos os pecados.
Depois, olhando-o com olhar benigno, Ela lhe disse:
“Obtive de meu Filho, como recompensa pelo pequeno serviço que tu
me prestaste ao levar o meu Rosário, o prolongamento de tua vida por
mais alguns anos. Emprega-os bem e faz penitência”.
Voltando-se do arrebatamento, Afonso exclamou: “Ó bem aventurado Rosário da Santíssima Virgem, pelo qual fui liberto da condenação eterna!”. Depois disso, recuperou a saúde e passou o resto da vida rezando-o diariamente.
Em outra ocasião, Santa Gertrudes tem uma visão de Nosso Senhor, onde
o Filho de Deus aparece contando moedas de ouro. Santa Gertrudes,
então, se dirige a Cristo e lhe indaga o motivo de estar contando moedas
de ouro. Jesus lhe responde: “Eu conto as tuas Ave-Marias, moeda com a qual compras o paraíso”.
É através da Ave-Maria que entramos no céu.Rezando o terço
diariamente compramos o paraíso. Por isso, com muita razão, diz Santo
Afonso “Quem reza se salva, quem não reza se condena”.
A pessoa que adquire esse santo hábito tem sua entrada no céu garantida.
Nesse sentido, diz São Luís de Montfort:
“Ainda que estivésseis na beira do abismo, ainda que já tivésseis
vendido vossa alma ao demônio, ainda que fôsseis um herege empedernido e
obstinado, vós vos converteríeis mais cedo ou mais tarde e vos
salvaríeis – desde que (notais bem as minha palavras) rezásseis todos os
dias o santo Rosário, devotamente, até à morte, para conhecer a verdade
e obter a contrição e o perdão de vossos pecados”.
Este santo, que tão bem fala das virtudes de Maria Santíssima,diz que
o Rosário é um manancial e depósito de todas as espécies de bens, no
qual:
1º Os pecadores obtêm perdão;
2º As almas sedentas saciam a sede;
3º Os prisioneiros vêem seus grilhões quebrados;
4º Os que choram encontram alegria;
5º Os tentados encontram tranquilidade;
6º Os indigentes recebem socorro;
7º Os religiosos são reformados;
8º Os ignorantes são instruídos;
9º Os vivos triunfam sobre a vaidade;
10º Os mortos são aliviados à maneira de sufrágio.
Tendo em vista esses bens e, a fim de melhor honrar a Nossa Senhora, São Luís de Montfort desenvolve um método
simples e piedoso de se rezar o santo Rosário. Tal método visa dar ao
fiel uma melhor base de meditação sobre os mistérios da vida de Cristo e
Maria.
Diz ainda o santo que se rezado com devoção e meditação nos mistérios da vida de Cristo e Maria, o Rosário:
1º Nos eleva insensivelmente ao conhecimento perfeito de Jesus Cristo;
2º Purifica as nossas almas do pecado;
3º Nos torna vitoriosos sobre todos os nossos inimigos;
4º Nos torna fácil a prática das virtudes;
5º Nos abrasa do amor de Jesus Cristo;
6º No enriquece de graças e méritos;
7º Nos fornece o com que pagar todas as nossas dívidas a Deus e aos
homens, e, por fim, nos faz obter de Deus toda espécie de graças.
Assim, ao meditar os mistérios do santo Rosário o fiel participa da
vida, morte e glória de Jesus e Maria. Quanto maior é sua proximidade
com a Santíssima Virgem, através do Rosário, maior é, também, sua
proximidade com Deus.
Nesse mesmo diapasão, disse a Virgem Maria ao Beato Alain de La Roche:
“Recitar cento e cinquenta saudações angélicas é uma oração muito
útil, e um serviço que me é muito agradável. Porém, sê-lo-á ainda mais
se for acompanhado pela meditação sobre a Vida, Paixão e Glória de Jesus
Cristo, pois esta meditação é a alma dessas orações”.
“Que todos, os sábios e os ignorantes, os justos e os pecadores,
os grandes e os pequenos, louvem e saúdem, dia e noite, a Jesus e Maria
pelo santo Rosário”.
O Rosário, como bem disse São Luís, é uma arma contra as tentações e
um instrumento que nos garante a salvação. Por esse motivo ele é
lembrado constantemente pela Mãe de Deus.
Neste momento de tantas e tão graves perigos para a Igreja o terço é
uma arma fundamental para esta batalha que parece se aproximar.
Em um próximo artigo continuaremos discorrendo sobre a importância fundamental desta devoção.
Fonte: Montfort Associação Cultural
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