Ir. Ana Rafaela Maragno, EP
Apesar de tão numerosos favores concedidos pela
Providência, Adão, enganado pela astuta serpente pecou acarretando para
si a perda de todos os privilégios sobrenaturais com os quais Deus o
havia cumulado. Expulso de seu reino e arrancada de sua fronte a coroa
dos dons preternaturais, passou a viver na contingência de sua natureza
formada do barro. Ecoava-lhe ainda aos ouvidos a sentença divina:
[...] maldita seja a terra por tua causa. Tirarás dela com
trabalhos penosos o teu sustento todos os dias de tua vida. Ela te
produzirá espinhos e abrolhos, e tu comerás a erva da terra. Comerás o
teu pão com o suor do teu rosto até que voltes à terra da qual foste
tirado; porque és pó, e ao pó te hás de tornar (Gn 3, 17-19).
Iniciou-se uma nova fase para Adão, caracterizada pela experiência
das suas debilidades e fraquezas, consequência do seu pecado. E,
agora, se encontravam irremediavelmente fechadas para ele as portas
daquele jardim de delícias do qual fora expulso. Será que o
relacionamento com seu Criador estava cortado para todo o sempre? Não
haveria um meio de encontrar-se com Ele e de falar-lhe?
Esse grande meio Deus lho proporcionou através da oração. “Ela é o diálogo do homem com Deus” 1
. Por meio dela Adão e os seus filhos supririam em si aquelas saudades
imensas do paraíso, diminuiriam a distância entre Criador e criatura,
proporcionando a possibilidade de se aproximar, de falar e de conviver
com Deus e conquistariam o Céu que lhes fora prometido.
A oração tem o poder de abrir os tesouros de Deus e atrair sobre o
orante as chuvas das bênçãos divinas. Tanto agrada a Deus a prece
sincera e confiante que, por vezes, Ele tarda em atender, a fim de que a
alma, crescendo no desejo, redobre a insistência de seus pedidos e seja
coroada de méritos.
Tendo o Filho de Deus vindo ao mundo, ensinou ao homem a importância
da oração e incutiu-lhe a confiança nela, quer por meio de parábolas,
quer, sobretudo, através de seu Divino exemplo, desdobrando-se em
solicitude, desvelo e amor sobre todos aqueles que d’Ele requereram
algum favor. Não houve ninguém que saísse de sua presença com as mãos
vazias…
Esse mesmo Jesus que a todos atendeu com solicitude, não partiu para o
Céu de maneira definitiva e irremediável, mas quis permanecer na Terra,
convivendo entre os homens. “Eis que estou convosco todos os dias, até o
fim do mundo!” (Mt 28, 20).
Ele encontra-se em todos os sacrários do mundo, sob o véu das espécies
eucarísticas, à espera de nossa visita, pronto para ouvir nossas
súplicas. Feito Homem como nós e tendo experimentado a nossa fraqueza,
conhece tudo aquilo de que carecemos e sabe compadecer-se de nossas
misérias.
Como outrora pelas estradas da Galiléia ou sob os pórticos do Templo
de Jerusalém, Jesus detém-se ante o triste espetáculo da lepra
espiritual que corrói as almas ou da cegueira que as mantêm longe de seu
amor. Contudo, seu olhar misericordioso abrange a todos num infinito
desejo de perdoar, inclinando-se sobre cada um de seus filhos, com
ternura de pai e benquerença de irmão, para cumulá-los de dons e
atendê-los em seus anseios. Está apenas à espera de um pedido, de uma
súplica, de um simples suspiro a Ele dirigido, para cumprir sua
irrevogável promessa: “Qualquer coisa que me pedirdes em Meu nome, vo-lo
farei” (Jo 14, 14).
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