A predestinação com que a Santíssima
Virgem foi eleita é especial, única entre todas, não somente pelo grau,
mas pelo gênero. Se Maria é, na verdade, a primeira criatura
predestinada como a mais perfeita imagem de seu Filho é, além disso e a
outro título, a única predestinada em qualidade de Mãe sua".1
Para demonstrar a afirmação de que desde
toda a eternidade Deus predestinou a Santíssima Virgem Maria para ser a
Mãe do Verbo Encarnado, o insigne dominicano padre Royo Marín evoca a
pura voz da infalibilidade pontifícia:
"Nossa Senhora com o Menino Jesus" - Catedral de Santa Maria, Valência (Espanha) |
"Na Bula Ineffabilis Deus, com a que Pio
IX definiu o dogma da Imaculada Conceição, leem-se expressamente estas
palavras: ‘Elegeu e assinalou (Deus), desde o princípio e antes dos
tempos, para seu Unigênito Filho uma Mãe, na qual Ele Se encarnaria, e
da qual, depois, na ditosa plenitude dos tempos, nasceria; e em tal grau
A amou acima de todas as criaturas, que somente n'Ela Se comprouve com
singularíssima benevolência'.
Nada sucede, nem pode suceder no tempo
que não tenha sido previsto ou predestinado por Deus desde toda a
eternidade. Logo, se a Virgem Maria é, de fato, a Mãe do Verbo
Encarnado, claro está que foi predestinada para isso desde toda a
eternidade. É uma verdade tão límpida e evidente que não
necessita demonstração alguma".2
A eleição de Maria foi singularíssima e distinta da dos outros predestinados
"Se, [pois], o decreto divino relativo a
Cristo, Filho de Deus e Mediador, foi idêntico com o relativo à Virgem
Santíssima, Mãe de Deus e Medianeira, segue-se logicamente que a
predestinação de Maria foi singularíssima e, por isso, gloriosíssima,
distinta da dos outros predestinados, seja quanto ao termo, seja quanto à
sua extensão.
Quanto ao termo
Foi distinta, antes de tudo, quanto ao
termo, pois que, enquanto a predestinação de todas as outras criaturas
racionais (Anjos e homens) se refere, como a seu termo, à visão
beatífica, que deve ser alcançada mediante a graça, a predestinação de
Maria, ao contrário, se refere, como a seu termo, à maternidade do
Homem-Deus Mediador; maternidade que, pertencendo à ordem hipostática, é
incomparavelmente superior à graça e à glória. Por conseguinte, Maria
foi predestinada àquele grau altíssimo, excepcionalíssimo de graça e de
glória, que era proporcionado e conveniente a tão alta dignidade".3
Quanto à extensão
"A predestinação de Maria não compreende
apenas a maternidade divina e, em virtude desta, toda a abundância de
graças e prerrogativas sobrenaturais, desde sua Conceição Imaculada até o
seu glorioso triunfo nos Céus, mas também a própria existência e os
dotes naturais de corpo e de alma que A adornaram.
Nos demais predestinados, alguns
efeitos, como a graça e a glória, derivam da predestinação; outros, ao
invés,pertencem à ordem da providência natural, como a existência do
eleito e seus dotes naturais, que a predestinação pressupõe e ordena a
seu fim.
A índole da predestinação de Maria é
belamente descrita pelo Cônego Campana: ‘Assim como em Jesus, tudo em
Maria é efeito da providência relativa à ordem sobrenatural. É claro que
em Maria, não só a divina maternidade, não só os dons extraordinários
da graça, mas a existência, a alma, o corpo, as faculdades, as mínimas
coisas, enfim, dependem da predestinação: se Maria não devesse ser Mãe
de Deus, não teria existido. [...] Em Maria a maternidade divina
penetra, por assim dizer, todo o seu ser, e o transporta à ordem
sobrenatural, não apenas no sentido de que o dirige para esta ordem, mas
que o constitui um efeito próprio desta ordem. [...] Como não ver em
tudo isso uma vertiginosa elevação de Maria acima de toda outra
criatura? Quem não compreende que Maria, na hierarquia da criação, ocupa
um lugar singularíssimo, imediatamente abaixo de Jesus?'".4
A predestinação de Maria à graça e à glória
"A predestinação de Maria à maternidade
divina encerra, como consequência moralmente necessária, sua
predestinação à graça e à glória. A razão é porque a maternidade divina
tem uma relação tão íntima e estreita com Deus que exige ou postula
moralmente uma participação na mesma natureza divina, que é precisamente
a definição da graça santificante. Não se concebe, moralmente falando, a
Mãe de Deus privada da graça. E como a graça é completamente gratuita -
por isso se chama graça -, a Virgem não pôde merecê-la antes de
possuí-la: logo, foi predestinada eternamente a possuí-la, e certamente
já no primeiro instante de seu ser.
Isto quanto à graça. O mesmo raciocínio deve-se utilizar em relação à glória. Pode-se conceber, porventura que a Mãe de Deus
se condenasse eternamente? Pois a esta disparatadíssima conclusão
haveria de se chegar, se negássemos que foi predestinada eternamente
por Deus, não só à graça, mas também à glória.Por conseguinte, ambas predestinações - à
graça e à glória - se depreendem clarissimamente, como moralmente
necessárias, do fato colossal de sua predestinação à divina maternidade.
Cumpre ainda dizer que o grau de graça e de glória a que foi eternamente predestinada a Santíssima Virgem Maria é tão grande
e sublime, que excede muito o de todos os Anjos e Bem-aventurados
juntos, sendo superado unicamente pela graça e a glória de seu Divino
Filho Jesus".5
Excertos de: CLÁ DIAS, EP, João
Scognamiglio. Pequeno Ofício da Imaculada Conceição Comentado. 2.ed .
São Paulo: Associação Católica Nossa Senhora de Fátima, 2010, v.II,
p.12-17. (Revista Arautos do Evangelho, Janeiro/2014, n. 145, p. 36-37)
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