No dia 14 de
março a Igreja celebra a memória de São Cirilo e São Metódio. A festa
litúrgica dos dois irmãos de Salônica havia sido fixada pelo Papa Leão
XIII no dia 7 de julho. Porém o Concílio Vaticano II, transferiu a festa
para o dia 14 de fevereiro, data de nascimento para o céu de São
Cirilo.
O Beato João Paulo II, na comemoração do
undécimo centenário da obra de evangelização dos dois Santos, publicou a
Carta Encíclica "Slavorum Apostoli",
datada de 2 de junho de 1985. Com base nesse documento do Papa polonês,
extraímos um pouco da história desses apóstolos dos Elavos.
Primórdios de uma vocação
Os dois irmãos nasceram na cidade de Salônica em pleno século IX.
Metódio, muito provavelmente recebeu por
nome de batismo: Miguel. O mais velho dos irmãos nasceu entre 815 a
820. Constantino, mais conhecido por seu nome de religião, Cirilo, era o
mais novo, tendo nascido por volta do ano de 827 ou 828.
O pai deles possuía um alto cargo na
administração imperial, e as condições familiares abriam aos irmãos a
perspectiva de uma carreira análoga. Metódio chegou a desempenhar o
cargo de arcoente, quer dizer, o representante de uma das províncias da
fronteira, onde habitavam muitos eslavos. Entretanto, no ano de 840,
abandonou sua carreira para recolher-se em um dos mosteiros localizados
no sopé do monte Olimpo, na Bitínia, conhecido como Montanha Sagrada.
Cirilo concluiu seus estudos em Bizâncio, onde após ter recusado brilhante carreira política, recebeu as ordens sacras.
Ainda jovem tornou-se secretário do
Patriarca de Constantinopla e bibliotecário do Arquivo anexo à grande
igreja de Santa Sofia, na mesma cidade.
Desejoso de dedicar-se mais aos estudos e
à vida contemplativa, refugiou-se secretamente num mosteiro às margens
do Mar Negro. Após seis meses foi descoberto, e persuadido a aceitar o
ensino das disciplinas filosóficas na Escola superior de Constantinopla,
o que lhe valeu o epíteto de Filósofo, do qual ainda hoje é conhecido.
Após ter bom êxito em uma missão junto
aos sarracenos, retirou-se da vida pública e uniu-se ao irmão mais
velho, para com ele partilhar da vida monástica.
Missão em Morávia
O príncipe Ratislau, da Grande Morávia,
enviou ao imperador Miguel III uma petição, no sentido de enviar aos
seus povos um bispo e mestre que estivesse em condições de explicar-lhes
a verdadeira fé cristã na sua língua.
São Cirilo e São Metódio foram os
escolhidos para a missão, e aceitaram-na prontamente. Por volta do ano
de 863 chegaram à Grande Morávia, um estado que abrangia diversas
populações eslavas da Europa Central, na encruzilhada das influências
recíprocas entre o Oriente e o Ocidente.
Ali empreenderam a missão para a qual
haviam sido enviados. Para tal levaram consigo os textos da Sagrada
Escritura, indispensáveis para a celebração da Sagrada Liturgia,
ordenados e traduzidos por eles em Língua paleoeslava e escritos com um
novo alfabeto, elaborado por Constantino Filósofo (São Cirilo) e
perfeitamente adequado à fonética daquela língua.
O Papa Adriano II aprovou os livros
litúrgicos eslavos e ordenou que fossem depostos solenemente sobre o
altar na igreja de Santa Maria ad Praesepe, hoje conhecida como Santa
Maria Maior, e ordenou que fossem ordenados os discípulos que
acompanhavam os dois missionários.
Morte de São Cirilo e prisão de São Metódio
São Cirilo caiu gravemente enfermo, e
pode apenas emitir seus votos religiosos e endossar o hábito monástico,
pois no dia 14 de fevereiro de 869, estando em Roma, entregou sua alma à
Deus.
Suas últimas palavras haviam sido
endereçadas a seu irmão Metódio: "Meu irmão, nós partilhávamos a mesma
sorte, premindo o arado pelo mesmo sulco; eu agora vou cair no campo, ao
terminar a minha jornada. Sei bem que tu amas muito a tua Montanha; mas
vê lá, não abandones a tua atividade de ensino para voltar à Montanha.
Na verdade, onde poderias tu alcançar melhor a tua salvação?"
Metódio foi consagrado bispo da antiga
Diocese de Panômia e nomeado Legado Pontifício "ad gentes" (para as
gentes eslavas), além de receber o título eclesiástico da Sede Episcopal
de Sirmio, que fora restaurada.
Suas atividades pastorais foram interrompidas por ter sido injustamente
acusado de ter invadido a jurisdição episcopal de outrem, o que lhe
valeu dois anos de prisão, sendo libertado por uma intervenção pessoal
do Papa João VIII.
O novo soberano da Grande Morávia, o
príncipe Swatopluk, se opôs a liturgia eslava e insinuou nos meios de
Roma, dúvidas à respeito da ortodoxia do novo Arcebispo.
Aprovação Pontifícia
Convocado ad limina Apostolorum, no ano
de 880, para apresentar todo o assunto ao Pontífice João VIII, Metódio
foi absolvido e obteve do Papa a publicação da Bula Industriae tuae, com
a qual restituía, ao menos em sua substância, as prerrogativas
reconhecidas à liturgia eslava pelo seu predecessor Adriano II.
De volta a Constantinopla, Metódio
obteve reconhecimento análogo por parte do imperador bizantino e do
patriarca Fócio, nessa época em total comunhão com Roma.
Dedicou os últimos anos de sua vida em
novas traduções da Sagrada Escritura, dos livros litúrgicos, das obras
dos Padres da Igreja e, ainda, da coletânea das leis eclesiásticas e
civis bizantinas chamada Nomocanon.
Morte de São Metódio
Metódio faleceu em 6 de abril de 885, tendo antes nomeado seu discípulo Gorazd, como sucessor.
Em seu velório compareceram homens e
mulheres, gente simples e poderosos, ricos e pobres, homens livres e
escravos, viúvas e órfãos, estrangeiros e habitantes locais, sãos e
doentes, constituindo uma multidão que, com lágrimas e cânticos
(fúnebres), acompanhava ao local da sepultura o bom mestre e pastor, que
se tinha feito tudo para todos, para salvar a todos.
O Beato João Paulo II em 31 de dezembro de 1980, com a Carta Apostólica Egregiae virtutis, proclamou-os co-padroeiros da Europa.
Por Emílio Portugal Coutinho
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