Inês
saiu de casa bem cedo, com seu ramalhete de rosas. Tinha já percorrido
um bom trecho de estrada, quando ouviu passos atrás de si...
Irmã María Carolina Vindas Morales, EP
O frio ainda estava penetrante e a neve não cessava de cair naquele fim de inverno europeu, mais rigoroso que de costume.
No entanto, a severidade do clima não impedia a pequena Inês de sair de
sua casa, situada na encosta de uma íngreme montanha, para ir assistir à
Missa na aldeia vizinha. Era o dia 3 de fevereiro, quando todas
as crianças da região recebiam lindos papéis dourados, onde anotavam os
pequenos sacrifícios que ofereciam a Nossa Senhora de Lourdes, durante
sua novena.
Nesses dias, todos se empenhavam em
participar da Santa Eucaristia, e quanto mais se aproximava o dia da
festa, a alegria da meninada tornava-se mais intensa. Ao mesmo tempo,
suas listas iam engrossando com as mortificações que faziam, e que para
elas constituíam verdadeiros holocaustos, como privar-se de chocolate ou
de doce, fazer os deveres da escola sem resmungar ou levantar-se
cedinho de um salto só, apesar de tiritarem de frio e os cobertores
quentinhos convidarem a um pouquinho mais de sono...
Para Inês, o percurso até a igreja era
um sacrifício a mais, pois, enquanto as outras crianças viviam a pouca
distância do templo, para descer a montanha e chegar à aldeia ela se via
obrigada a percorrer um caminho escarpado e pedregoso, coberto de neve,
sob o vento inclemente. Cheia de fervor, porém, a menina nem sequer se
dava conta do esforço que aquilo significava, e nem o considerava como
algo de valor, próprio a ser oferecido a Jesus e a Maria, e digno de
constar em seu papel dourado.
Ao contrário, ficava desolada porque
seus pais não lhe permitiam fazer todos os sacrifícios que desejava, e
achava que sua lista não estava suficientemente cheia.
Chegada a vigília da festa, Inês saiu da
igreja um pouco preocupada, pois já estava bem escuro. Os últimos raios
do Sol se haviam ocultado atrás das montanhas, enquanto ela conversava
animadamente com as companheiras sobre a cartinha que seria posta junto à
imagem de Nossa Senhora de Lourdes, no dia seguinte, acompanhando suas
listinhas de sacrifícios e penitências.
À luz do pequeno lampadário que levava
suspenso a uma vara, empreendeu com decisão o trajeto de volta, e a
certa altura do caminho notou, com estupefação, que este se achava
salpicado de belas rosas frescas e perfumadas.
- Como podem ter aparecido estas flores,
em pleno inverno? - disse consigo mesma - Quem as terá deixado aqui?
Bom... Não importa! Vou recolhê-las e oferecê-las amanhã, quando for à
Missa, a Jesus e à sua Mãe Santíssima!
Ao amanhecer, ela saiu de casa com seu
ramalhete de rosas. Tinha já percorrido um bom trecho da estrada, quando
ouviu passos atrás de si. Voltou-se para ver quem a seguia e viu,
então, um jovem de aparência celestial, de luzidio e magnífico
semblante, vestindo uma túnica lilás bordada de prata e com asas de
diversas tonalidades. Era seu Anjo da Guarda.
"Inês, minha protegida, eu recolhi nesta cesta todos os passos que destes enfrentando os rigores da neve e do frio" |
Em sua mão esquerda portava uma cesta de
rosas, as quais ia espalhando ao longo do caminho, justamente nas
pegadas que a menina deixava sobre a neve. Na mão direita segurava outra
cesta, com flores de uma beleza incomparável e de variadíssimas cores.
Cheia de maravilhamento, ela não se atreveu a balbuciar uma palavra
sequer. Contudo, o Anjo lhe disse:
- Inês, minha protegida, eu recolhi
nesta cesta todos os passos que destes enfrentando os rigores da neve e
do frio, vencendo o cansaço para chegar à igreja e participar da Santa
Missa! Cada um deles está representado por uma destas rosas. Eu as
entrego a ti, a fim de que as ofertes a Nossa Senhora neste dia de sua
festa!
- Ó meu Santo Anjo, eu não sabia que
algo tão pequeno poderia agradar a Jesus e a Maria! Mas... e esta outra
cesta tão linda, cujas flores são superiores a todas as que cobrem os
campos na primavera?!
- Elas simbolizam os méritos que Deus te
concedeu por teres comparecido à Santa Missa e comungado todos os dias.
Inês, por mais que tenhas oferecido mortificações durante a novena que
ontem terminou, nada pode se comparar à assistência devota e fervorosa
ao Santo Sacrifício do Altar!
E depois de entregar-lhe as duas cestas, o Anjo desapareceu num raio de luz.
A pequena correu, então, para a igreja
levando aquele precioso presente e participou da Missa com uma devoção
como nunca tivera na vida. E com as amiguinhas depositou aos pés da
Virgem de Lourdes suas listas douradas e a carta que escreveram, repleta
de manifestações de carinho por Ela e por seu Divino Filho, adornadas
pelas esplendorosas flores celestiais que o Anjo lhe dera. (Revista
Arautos do Evangelho, Fevereiro/2014, n. 146, p. 46-47)
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