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Rádio GOTHMLP

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

A FÉ: significado e seus benefícios

Do Sermão sobre o Credo, proferido por São Tomás de Aquino, na cidade de Nápolis, Itália, durante a quaresma de 1273.

O primeiro bem necessário para o católico é a . Sem a fé ninguém pode ser chamado de fiel cristão.

1 — O seu primeiro bem é a união da alma com Deus.

Pela fé realiza-se uma espécie de matrimônio entre a alma e Deus, conforme se lê no Profeta Oséias: “Desposar-te-ei na fé”. (Os 2, 20).

Quando o homem é batizado, deve, em primeiro lugar, confessar a fé ao responder à pergunta — crês em Deus? — porque o batismo é o primeiro sacramento da fé. O Senhor mesmo disse: “O que crer e for batizado será salvo” (Mc 16, 16).

O batismo sem a fé é destituído de valor. Deve-se, portanto, ter por certo que ninguém pode ser aceito por Deus sem a fé. “Sem a fé é impossível agradar a Deus”, diz S. Paulo (Heb 11, 6).

Sto. Agostinho, comentando este texto da carta aos Romanos — “Tudo o que não procede da fé é pecado” (14, 23), assim se expressa:

2 — O segundo bem é este: pela fé é iniciada, em nós, a vida eterna.

A vida eterna não consiste senão em conhecer a Deus, conforme lê-se em S. João: “Esta é a vida eterna, que Vos conheçam como único Deus verdadeiro”. (Jo 17. 3). Esse conhecimento de Deus inicia-se aqui pela fé, mas é completado na vida futura, quando O conhecermos tal como é. Por isso lê-se na carta aos Hebreus: A fé é a substância das coisas que se esperam” (11. 11). Ninguém alcançará a bem-aventurança eterna, sem que tivesse primeiramente o conhecimento de fé, pois está escrito: Bem-aventurados os que não viram e creram” (Jo 20, 29).

3 — A vida presente é a orientada pela fé: eis o terceiro bem.

Para que o homem viva bem, convém que conheça os princípios do bem viver. Se pelo próprio esforço devesse aprender esses princípios, não chegaria a conhecê-los, ou só os poderia conhecer após um longo tempo. Mas a fé ensina todos os princípios do bem viver. Ora, lá ensina que há um só Deus, que Deus recompensa os bons e pune os maus, que existe uma outra vida, e outras verdades semelhantes. Esse conhecimento é suficiente para nos levar a praticar o bem e evitar o mal, pois diz o Senhor: “O meu justo vive da fé” (Hab 2,4).

Eis porque nenhum filósofo antes da vinda de Cristo, apesar do grande esforço intelectual que despendiam, pôde chegar ao conhecimento de Deus e dos meios necessários para alcançar a vida eterna. Entretanto, depois do advento do Cristo, qualquer velhinha chegou pela fé. Eis porque Isaías profetizou assim esse advento: “Encheu-se a terra da ciência de Deus” (11, 23).

4 — O quarto bem é que, pela fé, se vence as tentações, conforme lê-se nas Escrituras: “Os santos pela fé venceram os reinos” (Heb 11, 23).

As tentações procedem do diabo, do mundo, ou da carne.

O diabo tenta para que tu não obedeças nem te submetas a Deus. Ora, é pela fé que o repelimos, porque é pela fé que conhecemos que há um só Deus e que só a Ele devemos obedecer. Por isso escreveu São Pedro: “O diabo, vosso adversário, está rondando para ver se devora alguém: a ele deveis resistir pela fé” (1 Pd 5,8).

O mundo nos tenta, seduzindo-nos na prosperidade, ou nos atemorizando nas adversidades. Mas ambas as tentações vencemos pela fé. Ela nos faz crer numa vida melhor, e, por isso, desprezamos as prosperidades do mundo e não tememos as adversidades. Eis porque está escrito: “Esta é vitória que vence o mundo, a vossa fé” (1 Jo 5, 4). Além disso, a fé nos ensina a acreditar que há males maiores, isto é, que existe o inferno.

A carne nos tenta, conduzindo-nos para os deleites momentâneos da vida presente, mas a fé nos mostra que por eles, se a eles indevidamente aderimos, perderemos os deleites eternos. Por isso nos aconselha o Apóstolo: “Tende sempre nas mãos o escudo da fé” (Ef 6, 16).

Por essas razões fica provado que é muito útil ter fé.

5 — Mas pode alguém objetar: é insensatez acreditar naquilo que não se vê: não se deve crer senão naquilo que se vê.

Respondo a essa objeção com os seguintes argumentos.

Primeiro argumento É a própria imperfeição da nossa inteligência que desfaz essa dúvida. Realmente, se o homem pudesse, por si mesmo, conhecer perfeitamente as coisas visíveis e invisíveis seria insensato acreditar nas coisas que não vemos. Mas o nosso conhecimento é tão limitado que nenhum filósofo até hoje conseguiu perfeitamente investigar a natureza de uma só mosca. Conta-se até que certo filósofo levou trinta anos no deserto para conhecer a natureza das abelhas. Ora, se a nossa inteligência é tão limitada assim, é muito maior insensatez não querer acreditar em algo a respeito de Deus a não ser naquilo que o homem pode conhecer por si mesmo d’Ele. Lê-se no livro de Jó: “Eis como Deus é grande e ultrapassa a nossa ciência” (36, 26).

Segundo argumento Consideremos, por exemplo, um mestre que assimilou uma verdade e de um aluno pouco inteligente que a entendeu diversamente, porque não a atingiu. Ora, esse aluno pouco inteligente deve ser considerado como bastante tolo. Sabemos que a inteligência dos Anjos ultrapassa a do maior filósofo, como a deste, a inteligência dos ignorantes. Portanto, seria tolo o filósofo que não acreditasse nas coisas ditas pelos Anjos. Ele seria muito mais tolo se não acreditasse nas coisas ditas por Deus. Lê-se, a esse respeito, nas Escrituras: “Foram-te apresentadas muitas verdades que ultrapassam a inteligência do homem” (Ec 3, 25).

Terceiro argumento. – Se o homem não acreditasse senão nas coisas que vê, nem poderia viver neste mundo. Pode alguém viver sem acreditar em outrem? Como podes tu saber que este é teu pai? É, pois, necessário que o homem acredite em alguém, quando se trata de coisas que por si só não as pode conhecer. Ora, ninguém é mais digno de fé do que Deus. Por conseguinte, os que não acreditam nas verdades da fé não são sábios, mas tolos e soberbos. São Paulo refere-se a esses como sendo — “soberbos e ignorantes…” (1 Tm 6, 4). Por isso S. Paulo diz de si: “Sei em quem acreditei e tenho certeza…” (2 Tm 1, 12). Tudo isso é confirmado no Livro do Eclesiástico: “Vós que temeis o Senhor, acreditai n’Ele” (2, 8).

Quarto argumento. – Pode-se ainda responder dizendo que Deus comprova as verdades da fé. Se um rei enviasse suas cartas seladas com o selo real, ninguém ousaria dizer que aquelas cartas não vinham do próprio rei. E claro que as verdades nas quais os santos acreditaram e que nos transmitiram como sendo de fé cristã, estão seladas com o selo de Deus. Esse selo é significado por aquelas obras que uma simples criatura não pode fazer, isto é, pelos milagres. Pelos milagres Cristo confirmou as palavras doApóstolo e dos Santos.

Pode, porém, replicar dizendo que ninguém viu esses milagres. É fácil responder a essa objeção. É conhecido que toda a humanidade prestava culto aos ídolos e que a fé cristã foi perseguida, confirmando-o, além do mais, a história do paganismo. Converteram-se todos, porém, em pouco tempo a Cristo. Os sábios, os nobres, os ricos, os governos e os grandes converteram-se pela pregação de poucos homens rudes e pobres. Ora, de duas uma: ou se converteram por que viram milagres, ou não. Se foi porque viram milagres que se converteram, essa objeção não tem sentido. Se não o foi, respondo que não poderia haver maior milagre que esse de todos os homens converterem-se sem terem visto milagres. Deves te dar por vencido.

Conclusão. Eis porque ninguém pode duvidar da fé. Devemos acreditar mais nas verdades da fé do que nas coisas que vemos, por que a vista do homem pode falhar, mas a ciência de Deus é sempre infalível.



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