Igreja

Rádio GOTHMLP

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

A Unção dos Enfermos, remédio para a alma e para o corpo

Caio Newton de Assis Fonseca Conselheiro Geral

A qual família, a qual homem ou mulher não se dirige de modo especial esta exortação do Apóstolo São Tiago? Hoje como sempre, a enfermidade a ninguém poupa.

Todos — pais, filhos, esposos, irmãos, amigos — desdobram-se para dar o melhor atendimento possível aos seus entes queridos, quando atingidos pela doença, sobretudo estando estes em risco de vida. Sacrificam tempo de lazer e de repouso, enfrentam duras dificuldades financeiras, tudo fazem para salvá-los ou, ao menos, proporcionar-lhes algum alívio.

Salvar… aliviar… Estes são efeitos próprios da Unção dos Enfermos!

Ela é um Sacramento de vida e salvação, instituído por Nosso Senhor Jesus Cristo (ver quadro na página seguinte), o qual deu à sua Igreja a missão de ministrá-lo, ordenando aos Apóstolos: “Curai os enfermos, ressuscitai os mortos, limpai os leprosos, expulsai os demônios (Mt 10, 8).

Mãe terna e cuidadosa, a Igreja empenha-se em cumprir este divino mandato. Pelas mãos de seus sacerdotes, ela unge os enfermos na fronte e nas mãos, com óleo devidamente consagrado, dizendo uma só vez: “Por esta santa unção e por sua piíssima misericórdia, o Senhor venha em teu auxílio com a graça do Espírito Santo, para que, liberto de teus pecados, Ele te salve e, em sua bondade, alivie teus sofrimentos” (CIC 1513).

Mas… e os fiéis, que esforços fazem para aproveitar os enormes benefícios oferecidos por este sublime Sacramento? Infelizmente, muitos não conhecem o valor deste tesouro posto por Jesus à nossa disposição, e por isto recorrem a ele menos do poderiam e deveriam.

Objeções nascidas de infundados temores

Como o principal efeito da Unção dos Enfermos é a saúde da alma, isto é, a eterna salvação, o demônio procura espalhar temores infundados a seu respeito, para dela afastar os fiéis. Eloqüente exemplo disto é o fato ocorrido na cidade mineira de Montes Claros. Uma senhora telefonou aflita a um sacerdote:

— Padre, minha mãe está na UTI. Quando falei em Unção dos Enfermos, acendeu-se uma grande discussão entre os meus parentes. Alguns dizem que a Unção faz apressar a morte. O que devo fazer?

— Quanta ignorância! Como poderia Deus, que destinou o homem para ter a vida em abundância, instituir um Sacramento que provoca a morte? Olhe, fique aí animando a conversa enquanto eu vou ministrar a Unção dos Enfermos à sua mãe; depois lhe telefono para encerrar a questão — respondeu ele.

Após receber piedosamente esse Sacramento, a doente começou a melhorar. E até hoje, passados já mais de dez anos, ela agradece diariamente a Deus a sua inesperada cura.

Salutares efeitos

São muitos e variados os efeitos deste Sacramento. O principal deles é uma graça de reconforto, de paz e de coragem para quem o recebe vencer as dificuldades próprias ao estado de enfermidade ou de fragilidade da velhice.

Ele apaga os pecados — se o doente não pode obter o perdão através do Sacramento da Penitência — e faz desaparecer suas seqüelas. Ou seja, quando recebido com boas disposições, restaura a graça primeira, infundida pelo Batismo, e extingue os castigos temporais do pecado, livrando a alma do Purgatório.

Pela graça deste Sacramento, o enfermo recebe a força e o dom de unir-se mais intimamente à Paixão de Cristo: de certa forma, ele é “consagrado” para produzir fruto pela configuração à Paixão redentora do Salvador.

A Unção atenua os sofrimentos e aflições espirituais, livra da angústia os corações dos doentes, proporciona-lhes santa e piedosa alegria. Renova a fé em Deus, dando à alma novo alento pela confiança na bondade divina. Fortalece a alma contra as tentações de desânimo e de angústia que o demônio costuma sugerir, ante a perspectiva da morte.

Não só livra a alma da indolência e da fraqueza contraídas por efeito da doença ou por seus pecados, mas também revigora o corpo alquebrado pela fadiga. É um conforto para a pessoa suportar mais facilmente os incômodos da enfermidade.

Aos doentes em situação extrema, este Sacramento é valiosíssimo auxílio na hora terrível da passagem desta vida terrena para a eternidade.

Por fim, muitas vezes, a Unção obtém a saúde do corpo, quando esta for útil à salvação da alma.

Quem e quando pode recebê-la?

O tempo oportuno para receber este Sacramento é o momento em que a pessoa começa a correr perigo de morte por motivo de doença, debilitação física ou velhice. Assim, não se deve adiar para a última hora o pedido. A este propósito, o Missal Romano insiste: “Evite-se esperar a proximidade da morte para falar neste Sacramento” (GMR, 912).

Cada vez que um cristão ficar gravemente enfermo, pode receber o Sacramento da Unção. E ele pode ser reiterado no decurso da mesma doença, toda vez que esta se agravar. Podem recebê-lo inclusive os doentes em estado de inconsciência, bem como as crianças que já tenham atingido o uso da razão.

Não é necessário o fiel pedir esse Sacramento, basta que ele consinta em recebê-lo. Obviamente, se o pedido da Unção é motivado pela Fé do enfermo, sua eficácia será muito maior.

Só o presbítero pode ministrá-la

Uma senhora, pessoa instruída, estava com a mãe hospitalizada, em estado grave. Ao ser perguntada se havia chamado o padre para lhe dar a Unção dos Enfermos, respondeu: “Sim. Um ministro já lhe deu a Unção!”

Resultado: a mãe faleceu sem o Sacramento porque o ministro leigo não tem poderes para administrá-lo validamente. Nem mesmo o diácono. Segundo nos ensina o Catecismo da Igreja Católica (nº 1516), esse poder é exclusivo de quem recebeu a ordenação sacerdotal, isto é, o bispo e o padre.

Ao ministro leigo cabe uma importante missão: incentivar o enfermo a pedir a Unção e ajudá-lo a preparar-se para recebê-la com boas disposições.

Uma grande responsabilidade

E os familiares têm a grande responsabilidade de providenciar para que seus parentes enfermos não fiquem privados dos benefícios deste Sacramento justamente quando deles mais necessitam!

Como pouco se fala da Unção dos Enfermos, os familiares e amigos, ao tratarem com os doentes a respeito deste assunto, devem começar por falar em Sacramento que anima a pessoa em seu estado de enfermidade ou de enfraquecimento, comunicando-lhe forças para suportar os incômodos e sofrimentos.

Convém falar da possibilidade de ser curado, mas sem apresentar a Unção como mero instrumento da cura corporal. Isto, embora aconteça com freqüência, pode desvirtuar o significado principal do Sacramento, que é conferir a graça de suportar a enfermidade com espírito de fé, esperança e caridade.

Como Jesus instituiu este Sacramento?


Percorrendo as aldeias circunvizinhas de Nazaré, Jesus chamou os Apóstolos, “deu-lhes poder sobre os espíritos imundos”, e os enviou, dois a dois, a pregarem a penitência. “Eles expeliam numerosos demônios e ungiam com óleo muitos enfermos e os curavam” (Mc 6, 7 e 12-13).

Após a ressurreição, o Senhor renovou esse envio: “Em meu nome… eles imporão as mãos sobre os enfermos, e estes serão curados” (Mc 16, 17-18; CIC, 1507).

O óleo tem por efeito natural restituir a saúde, despertar alegria e alimentar a chama; presta-se também para revigorar o corpo alquebrado pela fadiga. Estas qualidades do azeite simbolizam bem os salutares efeitos produzidos pela Unção dos Enfermos.

O Divino Salvador às vezes pede ao doente uma prova de Fé, como no caso daquele grupo de cegos que Lhe imploravam a cura: “Credes que eu posso fazer isso? Sim, Senhor, responderam eles. Então Ele tocou-lhes nos olhos, dizendo: Seja-vos feito segundo vossa fé. E no mesmo instante, os seus olhos se abriram” (Mt 9, 28-30).

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