A religião é um dever
Uma senhora mundana, que, como tantas outras, quase não sabia o que é religião e a considerava como coisa convencional, queixava-se vivamente de sua filha na presença de um missionário.
- Mas, senhora, respondeu-lhe este, admite porventura que existam relações entre mãe e filha de modo que esta seja obrigada a respeitar sua mãe e a obedecer-lhe?
– Como! respondeu a senhora, pois não sou eu sua mãe? Seja qual for a sua idade, não é ela minha filha? Não é de mim que recebeu tudo? Não é sempre obrigada a amar-me e a honrar-me?
- Mas, tornou o missionário, estas relações de superioridade da sua parte e de dependência da parte de sua filha, não poderiam ser coisas convencionais e sujeitas a mudanças?
– A mudanças? diz V. Reva.? Mas V. Reva. está a supor então que eu deixo de ser sua mãe, e que ela deixa de ser minha filha; os direitos das mães são imutáveis porque se fundam na sua natureza de mães.
– Acredita, então, senhora, acrescentou o missionário, que entre si e sua filha há relações necessárias, que tem o direito de a mandar, e ela a obrigação de obedecer-lhe, respeitá-la e amá-la; que, se ela faltar a este dever, se torna culpada; que tudo isto não é uma questão de convenção, mas uma coisa imutável e sagrada, fundada no título de mãe e na qualidade de filha; acredita isso, não é verdade?
– Sim, acredito, respondeu ela.
– Ora bem, senhora, mude os nomes; em seu lugar ponha Deus, no de sua filha, ponha-se a si mesma, e aí tem a religião.
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