Igreja

Rádio GOTHMLP

sexta-feira, 2 de março de 2012

Dúvida sobre a segunda vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo

Em várias passagens bíblicas, os discípulos afirmam que a segunda vinda de Jesus é iminente. O próprio Jesus o declara isso em Mt 16,28. Por que isso não aconteceu?

Resposta As várias passagens bíblicas a que o missivista se refere — em particular Mt 16,28 — não dizem respeito a uma segunda vinda iminente de Cristo, mas a outros acontecimentos iminentes, em particular à destruição de Jerusalém no ano 70. Para comprová-lo basta mencionar que Jesus declarou que Ele mesmo não sabia o dia e a hora de sua segunda vinda d’Ele, como se lê em São Mateus (24,36) e em São Marcos (13,32), praticamente com as mesmas palavras. Em São Mateus: “De die autem illa et hora nemo scit, neque angeli caelorum, nisi solus Pater (“Quanto àquele dia e hora, ninguém o sabe, nem os anjos do Céu, mas somente o Pai”). E se Jesus diz que Ele não sabia o dia e a hora, não poderia ter dito que a segunda vinda d’Ele era iminente. Estava, portanto se referindo, nessas passagens alusivas à iminência da vinda, se referindo a outro acontecimento.
Convém desde logo esclarecer que Jesus Cristo, enquanto homem, não podia ignorar nada do que competia à sua missão: esta é uma doutrina absolutamente certa em teologia. Mas, segundo explicam os exegetas católicos (cfr. Manuel de Tuya OP, Bíblia comentada, BAC, Madrid, 1964, vol. V, p. 531), o verbo conhecer, nas línguas semitas, têm um alcance não apenas especulativo, mas também prático, que equivale a atuar ou manifestar o conhecimento que se tem. Porém, esta manifestação, no plano divino, está reservada ao Pai, como se lê, por exemplo, em Mt 11, 25: “Graças Vos dou, ó Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque escondestes estas coisas dos sábios e dos prudentes, e as revelastes aos pequeninos”. Assim, o segredo do dia e da hora da segunda vinda de Cristo compete ao Pai manifestá-lo aos homens.

A geração que condenou Jesus veria seu poder
A destruição da cidade e do Templo de Jerusalém, arrasado até nos seus fundamentos
No versículo 28 do capítulo 16 de São Mateus, que o missivista cita, Nosso Senhor Jesus Cristo afirma solenemente: “Em verdade vos digo, há alguns dos aqui presentes que não experimentarão a morte até que vejam o Filho do homem vir em seu reino”. E no versículo anterior (n° 27) havia dito: “O Filho do homem há de vir na glória de seu Pai com os seus anjos; e então dará a cada um segundo as suas obras”.
O versículo 27 trata, portanto, da vinda de Cristo no Juízo Final, para julgar todos os homens, e dar “a cada um segundo as suas obras”. O versículo 28, entretanto, ao menos no que diz respeito à iminência da vinda, trata de outro acontecimento, que é a manifestação do poder de Jesus Cristo, como fica claro no versículo correspondente de São Marcos (8,39): “Em verdade vos digo que há alguns dos aqui presentes que não experimentarão a morte até que vejam o Reino de Deus vindo com o seu poder”.
Assim, alguns daquela geração que condenou Jesus assistiriam à manifestação do seu poder, e teriam ocasião de arrepender-se de sua culpa, por ação ou omissão.

Dilatação da Igreja ou destruição de Jerusalém?
Os exegetas discutem sobre qual seria o acontecimento que corresponderia à manifestação do poder de Jesus Cristo:
a) a difusão do Evangelho e o estabelecimento da Igreja;
b) a destruição da cidade e do Templo de Jerusalém, arrasado até os seus fundamentos, e a consequente dispersão do povo judaico durante vinte séculos, enquanto o Reino anunciado por Jesus Cristo se disseminava por todo o mundo.
Tendo Jesus Cristo morrido aos 33 anos, e a destruição de Jerusalém ocorrido no ano 70, muitos dos que ouviram a pregação de Nosso Senhor estariam então ainda vivos. As duas hipóteses são, portanto, possíveis. O fato de os três evangelistas sinóticos transcreverem com tantas minúcias a destruição de Jerusalém, superpondo-a à descrição do fim do mundo, leva muitos a preferirem a segunda hipótese. Convém, pois, dizer algo a respeito.

A ruína de Jerusalém e o fim do mundo
“O Céu e a Terra passarão, mas as minhas palavras não passarão”
Não é possível transcrever aqui todo o capítulo 24 de São Mateus, que trata dos dois acontecimentos — a ruína de Jerusalém e o fim do mundo —, e menos ainda os tópicos correspondentes dos capítulos 13 de São Marcos e 21 de São Lucas. Escolhemos alguns tópicos apenas de São Mateus, para dar ao leitor a linha geral da descrição:
“E tendo saído Jesus do Templo, ia-se retirando. E aproximaram-se dele os seus discípulos, para lhe fazerem notar as edificações do Templo. Mas ele, respondendo, disse-lhes: Vedes tudo isto? Em verdade vos digo que não ficará aqui pedra sobre pedra que não seja derrubada.
“E, estando sentado sobre o monte Olivete, aproximaram-se dele seus discípulos à parte, dizendo: Dize-nos quando sucederão estas coisas? E qual o sinal de tua vinda e do fim do Mundo?
“E, respondendo Jesus, disse-lhes: Vede que ninguém vos engane. Porque virão muitos em meu nome, dizendo: Eu sou o Cristo, e seduzirão muitos. Porque ouvireis falar de guerras e de rumores de guerras. Olhai, não vos turbeis: porque importa que estas coisas aconteçam, mas não é ainda o fim. [...] E por causa de se multiplicar a iniquidade, se resfriará a caridade de muitos. Mas o que perseverar até ao fim, esse será salvo. E será pregado este Evangelho do reino por todo o Mundo, em testemunho a todas as gentes; e então chegará o fim.
“Quando, pois, virdes a abominação da desolação, que foi predita pelo profeta Daniel, posta no lugar santo — o que ler entenda — então os que se acham na Judéia fujam para os montes [...]. Mas, ai das mulheres grávidas e das que estiverem amamentando naqueles dias! Rogai pois que a vossa fuga não seja no inverno, ou em dia de sábado, porque então será grande a tribulação, como nunca foi desde o princípio do mundo até agora, nem jamais será.
“E, se não se abreviassem aqueles dias, não se salvaria pessoa alguma; porém serão abreviados aqueles dias, em atenção aos escolhidos. [...] Porque assim como o relâmpago sai do Oriente e se mostra até o Ocidente, assim será a vinda do Filho do homem. [...]
“E logo depois da tribulação daqueles dias, escurecer-se-á o Sol, e a lua não dará a sua luz, e as estrelas cairão do céu, e as potestades do céu serão abaladas. E então aparecerá o sinal do Filho do homem no céu; e todas as tribos da Terra chorarão, e verão o Filho do homem vir sobre as nuvens do céu com grande poder e majestade. E mandará os seus anjos com trombeta e com grande voz, e juntarão os seus escolhidos dos quatro ventos, de uma extremidade dos céus até a outra. [...] Quando virdes tudo isto, sabei que [o Filho do homem] está perto, às portas. Na verdade vos digo que não passará esta geração, sem que se cumpram todas estas coisas. O céu e a Terra passarão, mas as minhas palavras não passarão”.
As perspectivas superpostas
O que acabamos de transcrever é parte do que os estudiosos da Sagrada Escritura chamam de discurso escatológico de Nosso Senhor Jesus Cristo.
A propósito dele, comenta D. Duarte de Leopoldo e Silva, que foi arcebispo de São Paulo (1907 – 1938): “Para a boa compreensão de todo este capítulo, não se deve perder de vista que Nosso Senhor fala, ao mesmo tempo, da ruína de Jerusalém e do fim do mundo. Os desastres espantosos que assinalaram [a dispersão] do povo judeu são imagens da confusão e desordem que assinalarão o fim do mundo. Nosso Senhor parece ter, diante de si, um só espetáculo, onde estão confundidos estes dois grandes acontecimentos, e os pormenores que ele profetiza são aplicáveis, ora à tomada de Jerusalém, ora ao fim do mundo, ora aos dois fatos indistintamente” (Concordância dos Santos Evangelhos, Linográfica, São Paulo, 1951, p. 314).
Isto mostra ao leitor quanto cuidado se deve ter ao interpretar certas perícopes da Sagrada Escritura, a fim de evitar conclusões absurdas, como a que causou perplexidade ao consulente.
Fonte: revista Catolicismo

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