O amor de Deus se pratica levando uma vida virtuosa. Ou seja,
vivendo-se segundo os Mandamentos da Lei de Deus, o que só é possível
mediante obtenção, por meios dos Sacramentos, das graças necessárias.
Vida ativa e vida contemplativa
Como ensinam os santos e doutores da Igreja, a perfeição da vida
virtuosa se reduz às duas modalidades: a vida ativa e a vida
contemplativa.
À
vida ativa pertencem as operações corporais e sensitivas, praticadas em
coisas humanas, as quais são muito diversas. Os atos da vida ativa
procedem das virtudes morais (prudência, justiça, fortaleza e
temperança) e delas recebem a perfeição que lhes é própria.
À vida contemplativa pertencem as operações interiores do
entendimento e da vontade, cujo objeto é nobilíssimo, espiritual e
específico da criatura intelectual e racional.
Por este motivo, a vida contemplativa é mais excelente que a vida
ativa. Por si mesma é mais amável, por ser mais tranqüila, deleitável e
bela; aproxima-se mais do fim último do homem, que é Deus, em cujo
altíssimo conhecimento e amor consiste. Deste modo, participa mais da
vida eterna que é totalmente contemplativa.
São as duas irmãs: Marta e Maria (Lc 10, 41 e 42); uma tranqüila e
afável; a outra solícita e agitada. Ou então, às outras duas irmãs e
esposas: Lia e Raquel (Gn 29, 17); a primeira fecunda, porém feia e de
olhos doentes; a segunda formosa, agraciada, mas a princípio estéril.
A vida ativa produz mais, aparentemente, ainda que se disperse entre
muitas e diversas ocupações. Mas, daí lhe vêm “olhos” pouco claros para
penetrar nas coisas elevadas, sublimes e divinas.
A vida contemplativa é belíssima, ainda que a princípio não se note
sua fecundidade (resultado). Seu fruto geralmente é mais demorado,
procede da oração e de méritos de sua perfeição e amizade com Deus. Isto
inclina o Senhor a expandir sua prodigalidade com outras almas, e por
isto, seus frutos costumam ser de preciosas e abundantes bênçãos.
União das duas vidas (ativa e contemplativa): ápice da perfeição cristã
A união destas duas vidas é o ápice da perfeição cristã. Contudo,
realizá-la é tão difícil, como aconteceu com Marta e Maria, Lia e
Raquel.
Estas, distintas uma da outra, cada qual representava uma só daquelas
vidas. Em nenhuma dessas representantes, as duas vidas estavam
reunidas, pela dificuldade de subsistirem em grau perfeito, ao mesmo
tempo, numa mesma pessoa.
Os Santos esforçaram-se muito nesse ponto, e a doutrina dos mestres
espirituais procura alcançar esta união. Igualmente foram as instruções
de homens doutos e apostólicos, os exemplos dos Apóstolos e dos
fundadores dos institutos religiosos. Todos procuraram conciliar a
contemplação com a ação, tanto quanto lhes era concedido pela divina
graça.
Sempre, porém, verificaram que a vida ativa, pela multidão de suas
ações em objetos inferiores, dissipa e perturba o coração, como Nosso
Senhor disse à Marta. Por mais que se esforce por se recolher à quietude
e poder elevar-se aos altíssimos objetos da contemplação, não o pode
conseguir na vida ativa, senão com grande dificuldade e por breve tempo,
salvo especial privilégio do poder de Deus.
Por esta razão, os Santos que se dedicaram à contemplação, procuraram, de propósito, a solidão apropriada para cultivá-la.
Os que também praticavam a vida ativa na salvação das almas,
reservaram parte do tempo para se retirarem das ocupações exteriores.
Nos demais dias, repartiam as horas, dando umas à contemplação e outras
às tarefas ativas. Fazendo tudo do melhor modo, alcançaram o mérito e
recompensa de ambas as vidas.
Ambas as vidas (ativa e contemplativa) têm um único fundamento e
causa principal: conhecer, amar e servir a Deus e assim salvar nossas
almas.
O resto é vaidade e aflição de espírito (Ecl. 2,11).
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