É sabido que os cristãos sempre começam o ano um pouco antes. Cabe recordar esse ditado popular de “ano novo, vida nova”, que quer expressar algo muito humano: que nosso coração não se resigna ao fatalismo do que acontece; que nosso coração tem direito de dizer “Chega!” a tantas coisas que não andam; que nosso coração é justo quando, apesar dos pesares, tem a ousadia de sonhar mais uma vez.
Talvez seja por isso que todos nós concordamos em estabelecer uma data mágica: 1º de janeiro, o novo ano civil, para indultar-nos mutuamente e conceder-nos uns aos outros uma espécie de “anistia” bonachona: perdoamos os excessos, os rancores, as mentiras. Assim, da trincheira de todos os nossos pesadelos, nós nos atrevemos a erguer com timidez a branca bandeira dos sonhos de um mundo feliz. Lamentavelmente, tão desejada “anistia” costuma durar o que dura a ressaca de umas festas, para depois mergulharmos na opacidade de um cotidiano desiludido e cansativo, que tão rotineiramente sempre termina igual: em desencanto.
Podemos dizer “ano novo, vida nova” porque “o que ouvimos, o que vimos com nossos olhos, o que contemplamos, o que nossas mãos apalparam… O que vimos e ouvimos vo-lo anunciamos” (1 Jo 1, 1-3). A Vida Nova que, ano a ano, instante a instante podemos celebrar se chama Jesus Cristo.
Isso quer dizer que nem a mentira, nem o caos, nem a morte têm a última palavra desde que Alguém teve a loucura e o atrevimento de proclamar “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida”. E nós acreditamos nessa Vida Nova, que se fez um de nós, que habitou entre as contendas das nossas insídias. Ou estava louco para dizer semelhantes coisas, ou simplesmente era Deus… e Homem verdadeiro. (…)
O Advento cristão sempre é recordar Aquele que já chegou, é acolher sua vinda incessantemente presente e, por último, é preparar-nos para o dia da sua volta prometida. Este é o paradoxo da nossa fé: recordar quem veio, a partir da acolhida de quem nunca foi embora, para preparar-nos para receber quem voltará. O paradoxo consiste em que o sujeito é a mesma pessoa: Jesus Cristo. Este é o tempo que nos prepara para a celebração do Natal cristão.
Levantemo-nos, despertemos. É possível uma novidade, que não dependa dos panettones nem do champagne, bem de umas datas combinadas, mas de algo que aconteceu, de alguém que está entre nós.
Feliz ano novo, feliz vida nova.
Fonte: Zenit
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