Caixinha de beijos
Certo
dia, um homem chegou em casa e ficou muito irritado com sua filha de
três anos. Ela havia apanhado um rolo de papel de presente dourado e
literalmente desperdiçado fazendo um embrulho.
Porque
o dinheiro andasse curto e o papel fosse muito caro, ele não poupou
recriminações para a garotinha, que ficou triste e chorou.
Naquela
mesma noite, o pai descobriu num canto da sala, no local onde a família
colocara os presentes para serem distribuídos no dia de Natal, um
embrulho dourado não muito bem feito.
Na
manhã seguinte, logo que despertou, a menininha correu para ele com o
embrulho nas mãos, abraçou forte o seu pescoço, encheu seu rosto de
beijos e lhe entregou o presente.
Isto é pra você, paizinho! Foi o que ela disse.
Ele
se sentiu muito envergonhado com sua furiosa reação do dia anterior.
Mas, logo que abriu o embrulho, voltou a explodir. Era uma caixinha
vazia.
Gritou para a filha: Você não sabe que quando se dá um presente a alguém, a gente coloca alguma coisa dentro da caixa?
A criança olhou para ele, com os olhos cheios de lágrimas e disse:
Mas, papai, a caixinha não está vazia. Eu soprei muitos beijos dentro dela. Todos para você, papai.
O pai quase morreu de vergonha. Abraçou a menina e suplicou que ela o perdoasse.
Dizem
que o homem guardou a caixa dourada ao lado de sua cama por anos. Sempre
que se sentia triste, chateado, deprimido, ele tomava da caixa um beijo
imaginário e recordava o amor que sua filha havia posto ali.
* * *
De uma
forma simples, cada um de nós, humanos, temos recebido uma caixinha
dourada, cheia de amor incondicional de nossos pais, de nossos filhos,
de nossos irmãos e amigos.
Entretanto,
nem sempre nos damos conta. Estamos tão preocupados com o ter, com
valores do mundo, que as coisas pequenas não são percebidas por nós.
Assim,
a esposa não valoriza o ramalhete de flores do campo que o marido lhe
enviou, no dia do aniversário. É que ela esperava ganhar uma valiosa
jóia e não aquela insignificância.
O
marido nem agradece o fato da esposa, no dia em que comemoram mais um
ano de casados, esperá-lo com um jantar simples, a dois, em casa. Ele
estava esperando uma comemoração em grande estilo, ruidosa, cercado de
amigos e muitos comes e bebes.
Os pais
não dão importância para aquele cartão meio amassado que os pequenos
trazem da escola, pintado com as mãos de quem apenas ensaia a arte de
dominar as tintas e os pincéis nas mãos pequeninas.
Eles
estão mais envolvidos com as contas que a escola está cobrando e
acreditam que, pelo tanto que lhes custa a mensalidade escolar, os
professores deveriam ter lhes enviado um presente de valor.
É, muitos de nós não encontramos os beijos na caixinha dourada. Só vemos a caixinha vazia.
* * *
O amor é feito de pequeninas coisas. Não exige fortunas para se manifestar.
Por
vezes, é um ato de renúncia, como a daquele homem que no dia de Natal,
em plena guerra, conseguiu apenas uma laranja para a ceia dele e da
esposa.
Então a
descascou, colocou em um prato, criando uma careta com os gomos bem
dispostos e entregou para a esposa, com um beijo e um pedaço de papel
escrito: Feliz Natal!
E
ficou observando-a comer, com vagar, feliz por ver os olhos dela
brilharem e ela se deliciar com a fruta tão rara naqueles dias, naquele
local.
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