Procure
contemplar a natureza com todas as suas belezas criadas e pense no Céu.
Por maiores que sejam as riquezas e as belezas da Terra, não há termo de
comparação com as riquezas e belezas da eternidade.
Pe. David Francisquini (*)
Já
escrevi sobre a glória que nos é reservada no Céu, onde desfrutaremos
do banquete que nos foi preparado desde toda eternidade. Volto ao tema.
Começarei com alguns ensinamentos de Santo Antonio Maria Claret, homem
de firmeza inquebrantável, cujo lema foi: A Dios orando y com el mazo dando!(A Deus rezando e com o porrete golpeando).
Segundo este catequista e missionário, formador do clero e diretor de
almas, teremos no Céu bens essenciais e acidentais. Os primeiros
consistem na contemplação e no deleite de Deus, além do conhecimento dos
mistérios da natureza e da graça. Desse entendimento resulta um amor,
um contentamento inefável e uma felicidade que durará por todos os
séculos dos séculos.
Os bens acidentais, como glória, paz, júbilo, bem-estar, harmonia,
são atributos com os quais os justos ou santos se apreciam e se amam
como filhos de Deus, como irmãos e como amigos. Tais bens ultrapassam o
entendimento humano, mas constituirão verdadeiras auréolas para as almas
que conseguirem vitórias assinaladas contra o demônio, as vaidades e as
pompas do mundo.
São Paulo testemunhou o seu arrebatamento ao terceiro Céu, onde viu
algo impossível de se exprimir com linguagem humana. Para quem não viu o
Céu, impossível descrever tantas belezas, harmonias e prazeres que Deus
preparou para os que O amam.
O Apóstolo deixou consignado que vista jamais viu, ouvido jamais
ouviu e jamais entrou no coração do homem o que Deus preparou para ele,
pois os bem-aventurados gozarão no Céu conforme os seus merecimentos: “Quem semeia parcamente, parcamente colherá; e quem semeia abundantemente, com abundância colherá”.
Reino magnífico, onde todos se sentem felizes sob a autoridade do
Pai. Lugar sem sofrimento nem tristeza, sem rivalidade nem inveja; todos
estão irmanados numa família triunfante a desfrutar de todos os bens e a
contemplar Deus face a face sem fastio, sem tédio, sem torpor, sem
indolência. Afinal, todos se encontram livres do pecado e das penas
temporais, pois nada de impuro entra no reino dos Céus.
Conta-se que certo monge, ao meditar sobre o Céu, tinha dificuldade
em entender um bem que pudesse saciá-lo sem cansar. Certa feita meditava
ele pelos jardins do mosteiro quando lhe apareceu um lindo pássaro a
cantar. Arrebatado, o religioso o foi seguindo, seguindo, até uma região
desconhecida, mas de indescritível beleza. Era sua intenção apoderar-se
do misterioso passarinho.
Pôde apreciar palácios encantadores, fortificações, muralhas que nem
mesmo todo o ouro da terra teria bastado para edificar. Numa palavra, um
reino de esplendor e majestade. De repente, como que se despertando de
um sonho, o monge golpeia a porta do convento, pois já imaginava um
tanto atrasado para a próxima hora do Ofício Divino.
Qual não foi o seu espanto ao perceber que ninguém o conhecia e
vive-versa, ainda que ele afirmasse ter-se ausentado apenas por um lapso
de tempo… Diante da insistência, o prior resolveu consultar os
registros do convento. E lá encontrou o relato do sumiço de um monge
cerca de cem anos atrás. Ao ouvir o nome e as circunstâncias do
misterioso desaparecimento, o monge se identificou, mas sem se conformar
com tanto tempo passado. Uma antevisão do Céu? A lenda o diz.
Mas, afinal, o que é o Céu? — São Bernardo responde assim: “No
Céu não há nada que nos desagrada e faz sofrer, pois ali existe todo
bem que faz deleitar e cumular a alma de uma felicidade e alegria sem
par”. Já Santo Afonso descreve como sendo um lugar “onde
não existe a sucessão de dias e noites, de calor e frio, mas um dia
perpétuo e sempre sereno, contínua primavera deliciosa e perene. Não há
perseguições nem ciúmes, porque nesse reino de amor, todos se amam com
ternura, e cada um goza da felicidade dos demais como se fosse a sua
própria”.
Se o prezado leitor deseja um dia entrar no Céu, rogue a Deus
conceder-lhe uma vontade resoluta em vencer as tentações do maligno e
observar a santa lei do Criador; frequente os sacramentos, sobretudo a
confissão e a comunhão; tenha uma ardentíssima devoção a Nossa Senhora,
bem como ao anjo-da-guarda, nosso fiel amigo e advogado.
Procure contemplar a natureza com todas as suas belezas criadas e
pense no Céu. Por maiores que sejam as riquezas e as belezas da Terra,
não há termo de comparação com as riquezas e belezas da eternidade.
Fonte: Agência Boa Imprensa
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