Hoje,
no mundo, prevalece o individualismo e por isso o uso dos bens e o
prazer sensível comumente é praticado sem se pensar nos outros mas só
nas vantagens pessoais imediatas. Consequentemente a família é
desvalorizada e ridicularizada, porque o conceito de família está
intimamente ligado à noção de propriedade e de tradição.
A propriedade familiar é, em princípio, a
mais simpática forma de propriedade. Porque a propriedade não deve
considerada apenas em termos econômicos. Além do aspecto econômico e
moral, ela deve ser vista também em seus termos psicológicos.
Agora, a família é uma instituição mais nobre do que a propriedade,
pois a propriedade recai sobre bens materiais enquanto a família se
constitui de vínculos entre elementos humanos, portanto muito superiores
do que simplesmente o vínculo do homem com uma coisa inanimada. Por
isso, entre os muitos aspectos que a família oferece é que, bem no
fundo, a propriedade seja um corolário dela.
Para se compreender a importância da família basta figurar uma
sociedade sem família e sem propriedade, onde não haja casamento e não
haja vínculos entre pais e filhos. Ou aquilo que seja casamento seja
apenas uma união física tão fácil de dissolver que ele de casamento só
tenha o nome. Que se faça sem nenhuma conformação moral de nenhuma
ordem, exatamente como os animais.
Numa sociedade sem família, a situação psicológica de seus componentes será aquela para a qual o mundo caminha em nossos dias:
A)
As pessoas vivem, ao mesmo tempo, intensamente próximas e imensamente
distante umas das outras. Vive-se perpetuamente no meio dos outros e
perpetuamente só…
B) A pessoa não tem outra ou outras de sua inteira confiança.
C)
Ela não tem outra ou outras com as quais tenha conjugado seu destino,
que possa ser para ela um fator de compreensão, um fator de afeto mais
próximo, um fator de estabilidade afetiva, de continuidade.
D)
Tudo é completamente destrutível a qualquer momento. Todas as uniões se
esfarelam. Elas não produzem, na ordem moral, aquele aconchego, aquele
vínculo pelo qual o homem possa dizer: “a minha esposa” e usar o
possessivo “meu”; e a esposa possa dizer “o meu esposo” e usar o
possessivo “meu”. Uma situação em que eles entre si se deram um ao outro
por um vínculo que tornou um próprio ao outro.
Pelo contrário, havendo a família, segundo os ensinamentos da Santa Igreja:
a) Estabelece-se um vínculo contínuo, que cria uma conjugação de afetos, uma conjugação de interesses, uma conjugação de vida;
b) Por causa
disso, estabelece-se uma união sagrada entre um ser e outro e que faz
com que cada pessoa se destaque da massa de anonimato e conjugue a sua
existência com a de outros.
c)
Constitui-se, então, uma conjugação de direitos e deveres de umas
pessoas sobre outras. Porque esta conjugação existe, e porque a causa é
dona do efeito, nasce o direito sagrado dos pais sobre seus filhos. Eles
têm sobre os filhos um direito natural, congênere ao direito de
propriedade, que resulta da mesma necessidade da alma humana ter algo de
próprio, de ser idêntica consigo mesma, de se apoiar em outro e de não
se confundir na massa.
A família não é senão uma instituição que nasce do mesmo fundamento
moral e humano do direito de propriedade. E quem nega a família, nega a
propriedade; quem nega a propriedade, nega a família. Tudo resulta, em
última análise, da condição natural do homem.
Pode-se dizer que é tão verdade isto que foi dito acima que a maior
parte dos bons moralistas sustenta que o chefe de família não é,
propriamente, o único dono do patrimônio da família, e que sua esposa e
seus filhos têm direito à participação nessa propriedade. Daí a
expressão romana patrimonium, que é o conjunto de haveres que são do pater, são herdados pelos filhos e vão ser transmitidos aos netos e aos bisnetos.
Quer dizer, a tradição é o conjunto do patrimônio do legado
espiritual e moral perpetuado e transmitido sobretudo através da
família. Porque a família, devidamente constituída, é congênere com a
propriedade, bem como, a fortiori, congênere com a tradição.
A tradição se baseia sobretudo na continuidade da família. A família é
o “laboratório” que produz a tradição. Porque exatamente a família não
deve ser apenas a continuidade de uma corrente biológica, mas da
continuidade da corrente biológica deve vir tudo quanto a
hereditariedade leva consigo. Hereditariedade é uma força misteriosa,
mas é uma sandice prescindir dela, pois há a continuidade de
determinadas disposições, de determinadas tendências, de determinado
equilíbrio de predicados e até de defeitos, que marcam toda uma linhagem
com as mesmas notas.
Qual é a ligação da tradição com a psicologia? Um homem com tradição é
aquele que teve a felicidade de ter um plano certo e a rota certa,
intelectual e moral, e que atingiu o termo que deveria atingir. Porque
isto nos causa admiração, nós temos perplexidade quando vemos uma pessoa
que muda constantemente de rumo na vida. Podem existir exceções. Mas a
regra geral pede a continuidade. Por que pede a continuidade? Porque o
bonito é ver a causa que, longa e laboriosamente, trabalha para produzir
um grande efeito.
Assim como os homens têm as suas continuidades e suas tradições, os
povos – constituídos de famílias que se entrelaçam e que se seguem
através dos séculos – devem ter suas continuidades e suas tradições
também.
Estas considerações contêm, como efeito, o destacar e acentuar o mais
possível a personalidade humana. Mas para admiti-las requerem-se dois
pressupostos iniciais.
O primeiro pressuposto é de que o homem tem uma alma espiritual que,
queiram ou não queiram, não se confunde com a dos outros; e que tem que
se realizar sob pena de dar no pior dos desastres.
O segundo pressuposto é que só Deus é o ordenador da admirável
variedade das almas, tecendo o destino dessas almas através de sua
vontade eterna, imutável e sapientíssima. Deus é onisciente, onipotente,
criador de todas as coisas. Ele mesmo cria a variedade das criaturas e
conduz a variedade à unidade dos desígnios, sempre realizados.
Ele estabelece uma ordem superior, maravilhosa, nesta prodigiosa
variedade da Criação, na qual a Santíssima Virgem, nossa Mãe boníssima, é
a obra prima, iniqualável: o clemens, o pia, o dulcis Virgo Maria (ó clemente, ó piedosa, ó doce e sempre Virgem Maria).
Fonte: Baseado em http://vocacionadosdedeusemaria.blogspot.com.br/
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