O culto a Nossa Senhora remonta ao
início da Cristandade, e foi crescendo ao longo do tempo, fazendo-A
figurar na pluma dos mais insignes pensadores, nos lábios dos mais
eloquentes pregadores, e também nas obras dos mais talentosos artistas.
Imagens de Maria ao longo da história
Em dois milênios de Cristianismo, a
figura ímpar de Maria Santíssima foi representada das mais variadas
formas. Em sua fase inicial, a Igreja A concebeu como Virgem Orante, com
os braços abertos em sinal de prece, ou ainda como Virgem Mãe, deixando
transparecer uma divina pureza em suas feições.
No período românico, Maria é
principalmente representada como Mãe de Deus, majestosa, ereta, com
olhar hierático. Sentada em trono como Rainha, tem sobre os joelhos
Jesus, a Sabedoria Eterna, e O apresenta ao fiel num gesto respeitoso e
acolhedor.
Na Cristandade medieval, a
hieraticidade cede lugar ao movimento. O Menino Deus “muda” de posição:
tal imagem O apresenta num dos braços da Mãe, tal outra sobre os
joelhos. A figura da Virgem ganha em destaque e simbolismo.
Em pleno auge do gótico, tudo canta o
louvor à Santíssima Virgem: inúmeras igrejas são levantadas em Sua
honra, multiplicam-se nos púlpitos as referências a Ela, e a Liturgia A
celebra abundantemente. Na pintura e na escultura, a Rainha e Mãe toma
ares de uma nobre dama que brinca com seu Filhinho e O abraça com todo
afeto. “Sempre foi verdade — afirma o padre Dinarte Passos — que o
estilo gótico atingiu o ideal em todas as artes, também, portanto, na
arte marial” ⁽¹⁾.
O neo-paganismo renascentista rompe os
estreitos vínculos entre a arte e a Fé: a escultura e a pintura se
materializam. No período Moderno, enquanto progredia a técnica de como
fazer, perdia- se em boa medida o espírito de como criar. Mas as
manifestações de devoção a Nossa Senhora não deixaram de crescer também
nessa época.
Mil formas de representá-La
Sendo Mãe, Maria quer entrar em
contato com seus filhos, procura adaptar-Se aos bons aspectos deles,
transmite-lhes mensagens. Daí nasceu o culto à Virgem Maria designando-A
pelo nome do local onde Ela apareceu: Nossa Senhora de Fátima ou Nossa
Senhora de Lourdes, por exemplo.
Outras invocações expressam veneração
por algum aspecto de sua vida, como Nossa Senhora Menina; ou algum
episódio do Evangelho, Nossa Senhora do Desterro, que evoca a fuga para o
Egito. Há também formas de representá-La de acordo com as particulares
circunstâncias em que Ela nos ajuda: Nossa Senhora dos Mares ou Nossa
Senhora da Estrada, protetora dos viajantes.
Nos países do Oriente a Virgem aparece em costumes e ambientes locais: Imperatriz da China, Nossa Senhora do Japão, etc.
* * *
A Maternidade Divina de Nossa Senhora é
tão sublime que A coloca acima de todas as outras criaturas. Na
expressão do Cardeal Caietano: “Somente a Bem-aventurada Virgem Maria
chegou aos confins da divindade por sua própria operação natural, já que
concebeu, deu à luz, engendrou e alimentou com seu leite o próprio
Deus” ⁽²⁾.
Em vista de tanta sublimidade, ninguém
será capaz de exprimir de modo perfeito e acabado as mil facetas
d’Aquela que, segundo São Tomás, tem uma “certa dignidade infinita” ⁽³⁾.
Poderá alguém, ao menos, escolher entre várias representações de Nossa
Senhora alguma cujo olhar exprima mais adequadamente Aquela que “chegou
aos confins da divindade”?
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⁽¹⁾ Cf. PASSOS, CM, Dinarte Duarte. A Imagem da SS. Virgem através da História. Revista Eclesiástica Brasileira, v.VII, f.IV, p.868.
⁽²⁾ CAIETANO, apud ROYO MARÍN, OP, Antonio. Teología de la Perfección Cristiana. 9.ed. Madrid: BAC, 2001, p.89.
⁽³⁾ SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica, I, q.25, a.6, ad.4.
.⁽³⁾ SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica, I, q.25, a.6, ad.4.
Adaptação do artigo do Pe. Antonio Guerra, EP, “Um olhar com mil facetas”, Revista Arautos do Evangelho, nº 100 – Abril de 2010.
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